Resumo |
No livro Formação da Literatura brasileira, Antonio Candido destacou que o romance brasileiro surge no século XIX com ênfase na descrição do espaço geográfico, acompanhado de estudos históricos e regionais e do interesse de escritores em expressar uma “cultura válida para o país”. Anos depois, em um texto publicado em 1983, intitulado “A revolução de 1930 e a cultura”, Candido destacou a vocação regional do romance brasileiro. Percebemos a expansão da literatura regional, que encontra força principalmente no nordeste, para onde os escritores modernistas viram os olhos, pois a literatura se torna solidária para com os aspectos sociais, em especial, com o tema da seca nordestina e suas devastadoras consequências. Isso não ocorre aleatoriamente, pois na década de 1930 encontramos inúmeras mudanças culturais em nossa sociedade, tanto no que diz respeito aos aspectos sociais quanto políticos e econômicos. Neste contexto, o chamado “romance de 30” trouxe várias temáticas e representações sociais, entre elas, o espaço rural que propiciou a consolidação do romance regionalista. Além do mais, o país estava vivendo um caos político, o mundo envolvido em uma pré–guerra e o socialismo na União Soviética em grande ascensão. Nesse clima, os escritores denunciavam as questões sociais brasileiras de desigualdade, subsistência, entre outras. A pesquisa deste trabalho tem como ponto de partida o tema da seca no nordeste, abordada por diferentes escritores brasileiros que problematizaram situações de pobreza e descaso de latifundiários e governantes para com o homem do campo. É nesse contexto que José Américo de Almeida publica o romance A bagaceira (1929), considerado o romance que inaugura o romance do nordeste. Trata-se de uma obra que aborda aspectos sociais importantes relacionados à trajetória de horror e miséria de retirantes que deixam suas moradias para percorrerem o espaço em busca de melhores condições de vida, mas, muitas vezes, só encontram uma vida de servidão e dependência dos empregadores latifundiários. A recepção crítica deste romance não é vasta, a despeito de sua reconhecida importância para a história do romance brasileiro. Desse modo, o objetivo do presente trabalho é propor uma análise do romance tendo em vista a classificação dada por Josué de Castro de “Romance da forme”. Para tanto, será essencial o estudo do trabalho de Josué de Castro intitulado “Geografia da fome”. Segundo o estudioso, a fome não é uma questão meramente quantitativa pois está relacionada à concentração de bens e recursos nas mãos de poucos. Será necessário também estudos de teoria e história do romance moderno, visando empreender uma leitura crítica interpretativa da obra. |