Resumo |
Bactérias endossimbiontes do gênero Wolbachia (Riketciales: Anaplasmataceae) têm sido encontradas parasitando cerca de 50% dos Artrópodes conhecidos. A infecção tem transmissão materna e pode causar alterações reprodutivas nos hospedeiros, como morte ou feminização dos embriões machos, indução de partenogênese e incompatibilidade citoplasmática (IC). O estudo de tais alterações requer a comparação e o cruzamento entre linhagens infectadas e não infectadas, o que muitas vezes exige tratamentos envolvendo choques térmicos (altas temperaturas) ou antibióticos. Droshoplila sturtevanti é um drosofilídeo neotropical naturalmente infectado por Wolbachia. Resultados prévios obtidos no LBE – UFV mostram a presença da cepa wStv em todas as fêmeas coletadas no campus da UFV. Esta linhagem é molecularmente idêntica à encontrada em Lutsomyia whitmani e muito distinta das linhagens encontradas em outros drosofilídeos, resultado de transmissão horizontal recente da bactéria entre as duas espécies. O objetivo do trabalho foi produzir linhagens de D. sturtevanti livres de Wolbachia para posteriores comparações e cruzamentos controlados. O tratamento foi feito colocando indivíduos adultos infectados em meio de cultura com tetraciclina (0,03%), mantidos nestas condições por três gerações. Os adultos de F3 foram transferidas para meio sem tetraciclina onde foram mantidos por outras três gerações para recuperação de possíveis efeitos causados pela exposição ao antibiótico. A cada geração, uma amostra de cinco fêmeas foi retirada do meio, teve seu DNA extraído e testado com primers específicos de Wolbachia. Os produtos de PCR foram visualizados em gel de agarose a 1.0%. Tanto na F3 após o tratamento, quanto nas duas primeiras gerações de recuperação, não foi possível detectar a presença de Wolbachia. No entanto, na terceira geração de recuperação a presença da bactéria foi detectada, indicando que o tratamento não foi eficiente para eliminar a infecção. Possivelmente houve uma drástica diminuição na titulação de Wolbachia, o que impediu a detecção por PCR, mas após o processo de recuperação a infecção aumentou, gerando novamente resultados positivos. Outros estudos indicam dificuldade em obter linhagens curadas, o que pode indicar que a relação entre D. sturtevanti e Wolbachia seja obrigatória, apesar das evidências de que seja recente. No entanto a cura total pode ser prejudicial para o hospedeiro, como no caso de Folsomia candida, ordem Collembola, onde a cura torna os indivíduos estéreis, o que no caso de D. sturtevanti impediria a realização dos testes desejados. Em alguns casos, a diminuição da titulação se mostra suficiente para detectar os efeitos da bactéria na biologia reprodutiva do hospedeiro. Sendo assim, novos tratamentos são necessários para obter linhagens curadas, ou com titulação reduzida, para a realização dos testes. |