Resumo |
É de amplo conhecimento que o processo de ensino e aprendizagem da língua escrita deve ser iniciado e desenvolvido desde as primeiras etapas da vida escolar. Porém, tratando-se do ensino e aprendizagem da Língua Portuguesa (LP) escrita para alunos surdos, esse processo tem sido um desafio para os professores de escolas inclusivas. Isso porque, o ensino da língua deve ser pautado em metodologias de segunda língua (L2), bem como considerar a importância da Língua Brasileira de Sinais (Libras) como primeira língua (L1) desses alunos. Diante disso, investigamos as práticas desenvolvidas por duas professoras de uma escola inclusiva, voltadas ao ensino e aprendizagem da LP escrita para um aluno surdo matriculado no primeiro ano do Ensino Médio. Constituíram-se sujeitos da pesquisa um aluno surdo, duas professoras regentes de português e uma tradutora/intérprete do par linguístico Libras/Língua Portuguesa. Para compor o corpo metodológico utilizamos a investigação bibliográfica, a fim de promover o embasamento teórico do trabalho por meio de pesquisas científicas e publicações relacionadas ao tema estudado. No que se refere às técnicas de coleta de dados, usamos o diário de campo, a observação participante, e a análise documental. Os dados coletados foram organizados em categorias teóricas e empíricas, e analisados com base nos achados da literatura científica da área, buscando por semelhanças e diferenças e suas correlações. Os resultados demonstraram que no processo de ensino e aprendizagem, as professoras regentes não abordaram a Libras como a L1 do estudante surdo, e não fizeram uso de metodologias de ensino da LP que atendessem às especificidades do mesmo. Ainda, constatamos que na maioria das aulas observadas, a tradutora/intérprete desempenhou funções não compatíveis com as suas atribuições profissionais, como, por exemplo, promover explicações divergentes da fala da professora sobre os conteúdos ministrados. Podemos concluir que na escola pesquisada, a língua de sinais ainda não tem papel de destaque nas práticas de ensino voltadas ao estudante surdo, e a LP não está inserida em um currículo bilíngue como L2. Tais resultados demonstram a necessidade de se ampliar as discussões sobre o ensino da LP para surdos como uma prática social, a partir das suas singularidades linguísticas e culturais. Tais discussões podem contribuir para expandir e fortalecer os estudos que se interessam pelo ensino de LP para surdos, especialmente sobre a formação de professores diante das questões que afetam esse ensino. Destaca-se ainda a necessidade de se investigar as relações existentes entre a Libras e a Língua Portuguesa no contexto educacional, compreendendo o espaço que é conferido (ou negado) a cada uma delas. |