Resumo |
A Carta Capital é uma revista semanal brasileira fundada em 1994 pelos jornalistas Bob Fernandes e Mino Carta, atual editor. Possui uma postura de análise crítica que se distancia de outras da categoria. Pichelli, Pedro e Carvalho (2006) apud Barbosa et al (2014) apontam que sua linha editorial possui um padrão diferente das demais revistas do gênero e que, apesar de ser classificada na editoria de economia e negócios, traz informações gerais e realiza análises político-econômicas nacionais e internacionais. Segundo o editor, “o jornalismo é o exercício do espírito crítico, ele deve fiscalizar o poder e não fazer parte dele” (MINO CARTA, apud COMUNITÀ ITALIANA, 2001). Assim, com a instauração do processo de impeachment de Dilma Rousseff em 2016, a revista se posicionou contrária e engajada no discurso de que o processo foi um “golpe”. Durante o julgamento do impeachment, Mino Carta escreveu editoriais se posicionando sobre a política brasileira e é nesse contexto que nossa pesquisa se desenvolve. O objetivo geral é analisar os imaginários sociodiscursivos sobre o impeachment presentes no editorial da edição 914, de 17 de agosto de 2017, da Carta Capital. Os específicos são dois: 1) identificar o modo de organização do discurso predominante no editorial e 2) verificar as estratégias discursivas utilizadas por Mino Carta para construir a tese do golpe. A metodologia se ampara na Teoria Semiolinguística, que propõe a análise discursiva em duas etapas. Primeiro, a descrição dos dados, que compreende a identificação dos estratos que os constituem e a decomposição desses dados em suas formas semiolinguísticas, que compreende a descrição dos modos de organização do discurso, do qual a matéria linguística se compõe. Posteriormente, a interpretação desses dados, que consiste na identificação dos chamados imaginários sociodiscursivos. Essa metodologia se insere na proposta de Charaudeau (2008) sobre a situação social na qual o ato de comunicação é produzido, regulado por um contrato comunicativo e resulta de escolhas associadas aos modos de organização do discurso. Esses modos são, segundo o autor, uma maneira de ordenar categorias da língua conforme as finalidades discursivas do ato de comunicação e são divididos em enunciativo, descritivo, narrativo e argumentativo. A descrição dos modos permite o entendimento dos imaginários sociodiscursivos veiculados por meio do discurso. Segundo Charaudeau (2006a), os imaginários sociodiscursivos se concretizam em saberes do conhecimento e de crença. O primeiro procede da representação racional sobre a existência dos seres e fenômenos do mundo. Já a natureza da crença está relacionada ao ato de comentar o mundo, ou seja, fazer existir o mundo através do olhar subjetivo de um sujeito. A pesquisa nos permitiu identificar a utilização de uma série de procedimentos de ordem argumentativa que corroboram a tese de que o impeachment é um golpe e de que o governo resultante desse golpe é incompatível com a democracia. |