Resumo |
A Revolução Verde trouxe novas tecnologias e pacotes tecnológicos que modificaram os sistemas de produção de alimentos, como uso de pesticidas, fertilizantes sintéticos e mecanização do campo, que somadas, alavancaram a produção mundial de alimentos. Impactos ambientais, como a contaminação de recursos hídricos pelo uso indiscriminado de agrotóxicos, têm surgido em decorrência do uso inadequado dessas técnicas. Neste contexto, surge a necessidade de estudos que avaliem o impacto ambiental gerado por esses agentes xenobióticos no ambiente aquático. Com isso, os peixes podem se constituir em excelentes bioindicadores de contaminação ambiental, sendo utilizados como ferramenta de monitoramento. Neste cenário, o presente projeto foi conduzido no município de Araponga/MG, em quatro propriedades associadas à Escola da Família Agrícola Puris de Araponga/MG (EFA-Puris), sendo duas de agricultura convencional e duas agroecológicas. Foram implantados tanques rede contendo peixes da espécie lambari mantidos por 28 dias. Também foi conduzido um grupo controle em condições laboratoriais. As coletas foram realizadas aos 7, 14, 21 e 28, dias, capturando seis animais para estudo histomorfológico do fígado. Os fígados foram processados rotineiramente em historesina, seccionados com 3 µm e corados com hematoxilina-eosina. Foram considerados parâmetros de alteração histológica do órgão quanto ao grau de severidade, calculando-se o índice de alteração histológica pela fórmula: IAH =10º ∑I + 10ˡ ∑II + 10² ∑III, sendo I (alterações que não comprometem o funcionamento do órgão), II (alterações mais severas e que prejudicam o funcionamento normal do órgão); e III (alterações muito severas e irreversíveis). Todas as práticas foram realizadas em acordo com CEUA/UFV. Esse trabalho foi realizado em parceria com o Grupo de Trabalho das Águas (GT-Água) do Depto de Solos/UFV. Este índice permitiu a comparação da severidade das lesões hepáticas entre os dois sistemas produtivos estudados. Os resultados mostram que o IAH aumentou em todas as propriedades ao longo do período de estudo (13,30 no grupo controle aos 7 dias; e 253,65 em uma das propriedades de manejo convencional aos 28 dias). Entretanto, os valores foram sempre mais elevados nas propriedades sob manejo convencional (médias de 177,76 e 203,52 aos 28 dias) quando comparados àqueles de propriedades sob manejo agroecológico (médias de 106,97 e 121,47 aos 28 dias). Com base nos resultados dessa pesquisa e em estudos precedentes dos recursos hídricos do município em questão, se pode inferir que propriedades baseadas em práticas agroecológicas apresentaram um menor número de alterações histomorfológicas nos fígados analisados. Pode-se concluir que o modelo de produção agrícola convencional tem impactado negativamente os recursos hídricos das bacias hidrográficas trabalhadas, com potencial impacto na saúde alimentar e qualidade de vida das famílias residentes. |