Resumo |
O aporte de cargas poluidoras por meio de ações antrópicas intensifica processos de eutrofização de corpos d’água, caracterizado, dentre outros aspectos, pelo crescimento excessivo do fitoplâncton. Como consequência, podem proliferar gêneros e espécies de microalgas e cianobactérias capazes de produzir metabólitos que causam problemas organolépticos na água (gosto e odor), ou, mais preocupantemente, toxinas (cianotoxinas). Apresentam-se neste trabalho os resultados do monitoramento da qualidade da água em duas represas do manancial de abastecimento do campus da Universidade Federal de Viçosa e de parte do município de Viçosa-MG. O estudo objetivou associar a dinâmica do fitoplâncton (microalgas e cianobactérias) com a qualidade da água, com especial atenção a organismos capazes de comprometer características de potabilidade da água. De março de 2016 a fevereiro de 2017, em frequência mensal, amostras de água foram coletadas e analisadas para as seguintes variáveis: temperatura, oxigênio dissolvido, pH, condutividade elétrica, turbidez, alcalinidade, sólidos totais, sólidos em suspensão totais, sólidos dissolvidos totais, nitrogênio total Kjeldahl, nitrato, fósforo total, carbono orgânico dissolvido e clorofila-a. Além disso, procedeu-se à caracterização do fitoplâncton quantitativa e qualitativamente, sendo que a identificação foi realizada em nível de gênero. Durante o período de estudo, as densidades de microalgas e de cianobactérias mantiveram-se relativamente baixas: contagem total de fitoplâncton ≈ 103 cel/ml e cianobactérias ≈ 102 cel/ml, com representantes das classes CRYSOPHYCEAE, EUGLENOPHYCEAE e BACILLARIOPHYTA presentes em quase todos os meses de coleta de amostras. As cianobactérias permaneceram sempre em densidades abaixo dos níveis de alerta da norma brasileira de qualidade da água para consumo humano, mas estiveram presentes em frequência elevada, por vezes entre os grupos predominantes. Foram identificados 50 gêneros no fitoplâncton como um todo, sendo 12 pertencentes às cianobactérias e, entre estas, gêneros reconhecidamente produtores de metabólitos que provocam gosto e odor de terra e mofo na água (geosmina e MIB), bem como produtoras de cianotoxinas - Anabaena, Microcysts e Oscillatoria. Não foram encontradas correlações significativas entre as variáveis físicas e químicas de qualidade da água e a caracterização da comunidade fitoplanctônica. O cômputo do Índice de Qualidade da Água (IQA) e do Índice de Estado Trófico (IET) indicou águas de boa qualidade (do ponto de vista de tratabilidade para abastecimento para consumo humano) e não eutrofizadas. Não obstante, o conhecimento da tendência de uso e ocupação do solo à montante das represas, bem como o fato de já se identificar a presença de cianobactérias, expõe fragilidades do manancial e requer ações preventivas de controle de eutrofização. |