Resumo |
A partir da compreensão de que o ensaio “Eros e civilização” de Herbert Marcuse, filosofo e sociólogo Alemão, baseia-se na reflexão acerca dos estudos “O futuro de uma Ilusão” e “O mal-estar na civilização” de Sigmund Freud somado às concepções de “O capital” do Karl Marx, Marcuse pode ser interpretado como o viés marxista do estudo freudiano. Para tanto, o presente trabalho pretende analisar a personagem “Pai Goriot” da obra homônima escrita pelo Francês Honoré de Balzac, a fim de fazer entender o que levou a personagem abdicar totalmente de si em prol dos excessos das filhas, problematizar a crueldade atribuída às descendentes pelo leitor e valorizar a teoria de Marcuse que, no seguimento de Freud, afirmou não ser a repressão civilizatória que substitui nos indivíduos o princípio do prazer pelo princípio de realidade e sim o sistema capitalista. O abandono ao qual o velho comerciante é relegado, depois de conseguir elevar os status de filhas de comerciante para esposas de aristocratas, impossibilitou Goriot de qualquer prazer tão cuidadosamente adiado, tanto prazer familiar da companhia das filhas, quanto financeiro. O romance de Balzac coloca Goriot na posição de vítima, contudo, na teoria freudiana e partilhada por Marcuse, a civilização consiste em repressão; sendo a família responsável pelo ciclo, onde o pai exerce o papel de opressor para que no futuro seus filhos passem a fazê-lo. Logo, Pai Goriot foi um dos responsáveis por criar as filhas ambiciosas. Tem grande parte da culpa por fazer florescer nelas o desejo ofuscado de poder acima até do afeto familiar. Assim, esta reflexão do personagem possibilita julgar o pai maltratado não apenas enquanto sacrificado, mas como alguém ativo que embora de forma involuntária, tornou possível o próprio infortúnio. Ademais, ao mesmo tempo em que Goriot é o criador da situação, é passivo do sistema capitalista que fomentou nele o interesse de estar em outra posição e não permitiu que as filhas também estivessem. O que fica dessa reflexão é a percepção da complexidade da vida, sobretudo familiar. Visto que os pais que em regra só desejam o bem acabam influenciando os filhos com seus próprios equívocos, esses entranhados da sociedade em seus múltiplos setores: político, econômico, religioso, educacional. Nesse sentido, o Pai Goriot não seria vítima de suas filhas e sim do sistema capitalista. |