Resumo |
Em sistemas de cultivo orgânicos e sem agrotóxico (SAT), o controle biológico e o uso de caldas a base de produtos não sintéticos são algumas das poucas alternativas ao controle químico convencional, normalmente utilizado para o controle de pragas. A calda sulfocálcica tem sido utilizada por produtores orgânicos e SAT visando controle de ácaros na cultura do morango. Entretanto, ainda muito pouco é sabido sobre os seus efeitos em organismos não-alvo que normalmente ocorrem na cultura. Assim, o presente trabalho foi conduzido com o objetivo de gerar informações que permitissem a integração do uso da calda sulfocálcica (i.e., estabelecer concentrações que garantam a eficiência contra as pragas) e de agentes naturais de controle biológico de pragas. Para isso, foi avaliada a toxicidade da calda sulfocálcica aos ácaros predadores Phytoseiulus macropilis (Banks) e Neoseiulus anonymus (Chant & Baker) e à praga alvo, o ácaro-rajado, Tetranychus urticae (Koch). Primeiramente, foram conduzidos bioensaios de concentração-mortalidade para o estabelecimento das concentrações letais (i.e., CL) para os ácaros predadores e o ácaro praga. Posteriormente, foi avaliada a viabilidade de ovos dos predadores e da praga, após serem expostos a doses da calda que são comumente utilizadas em cultivos orgânicos (i.e. 2%). Os resultados dos testes de toxicidade mostraram que os ácaros predadores P. macropilis (CL50 = 5,04 %) e N. anonymus (CL50 = 5,42 %) foram mais susceptíveis do que o ácaro rajado (CL50 = 13,21 %) à calda sulfocálcica. Além disso, os ovos dos ácaros T. urticae e N. anonymus foram altamente susceptíveis, apresentando cerca de 80% de inviabilidade quando tratados com soluções da calda a 2%. Já os ovos do ácaro predador P. macropilis foram menos susceptíveis ao produto, com uma média de 49,3% de inviabilidade. Desta forma, pode-se concluir que apesar do efeito letal da calda sulfocálcica no ácaro praga, principalmente na fase de ovo, o seu uso não é compatível com os ácaros predadores P. macropilis e N. anonymus. De modo geral, o produto foi mais tóxico aos ácaros predadores do que à praga alvo, indicando que seu uso em cultivos orgânicos de morangueiro precisa ser mais bem investigado. Novas pesquisas avaliando efeitos de concentrações subletais da calda sulfocálcica (e.g., em parâmetros comportamentais e reprodutivos) podem permitir a compatibilidade do seu uso com o controle biológico, assegurando a presença de inimigos naturais que normalmente ocorrem nestes sistemas. |