Resumo |
Emancipado politicamente de Portugal, o então surgente Estado Nacional Brasileiro enfrentava a problemática de consolidar-se enquanto nação. Para lograr a tarefa, grupos intelectuais da época perquiriam singularidades que sinalizassem o feitio identitário do país. A criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em 1838, representou o âmago da realização desse projeto, financiado majoritariamente pelo Segundo Reinado e complementado por descendentes dos antigos colonos, parte da Elite em vigência. Nosso trabalho, produto de uma avaliação da disciplina de Cultura Brasileira do Departamento de Letras da Universidade Federal de Viçosa, buscou analisar a obra alencariana O Guarani (1857), relacionando as imagens produzidas no romance ao projeto cultural e identitário do IHGB para legitimação do que seria considerado como “brasileiro” no cenário nacional do século XIX. Baseados em Alfredo Bosi (1992) e Machado de Assis (1994), fizemos uma pesquisa bibliográfica acerca da biografia dos autores e suas obras, bem como na leitura da obra, entendendo que José de Alencar acompanhava as discussões promovidas pelo IHGB, pelo que somos capazes de verificar em seu texto algumas colocações que ora se aproximam e ora se afastam de ideias e princípios que o Instituto idealizava desde os seus primórdios. Essas colocações, pois, iniciam-se na tentativa de criar uma epopeia dos costumes brasileiros por Gonçalves de Magalhães, e que, por sua existência, produz o desejo da obra de José de Alencar, texto ao qual nos dedicamos. Nesse sentido, pelas diversas razões e indícios que procuramos expor, foi possível concluir que O Guarani, de José de Alencar, produz uma materialização das propostas iniciais do Instituto e, portanto, para considerá-la enquanto proposta, é necessário entender não apenas os ideais do Instituto, mas também A Confederação dos Tamoios, dado que um não existiria sem o outro. No entanto, observou-se mais: numa leitura apressada, poder-se-ia dizer que a explanação da figura de um "herói nacional" seria, pois, uma tentativa de valorizar o índio como traço original do Brasil; porém, antes de tudo, temos que o que mais se valoriza é a herança portuguesa em detrimento da própria originalidade brasileira, que na produção é usurpada por uma espécie de europeização do protagonista, lapidado pelo convívio com os europeus, no aceite de sua religião, sua perspectiva de vida e sua forma de vivê-la. Assim, destacamos as ideias que inserem o Brasil como portador de cultura e identidade baseadas não apenas na figura do índio, na miscigenação e na valorização do território brasileiro, mas também na lealdade à Coroa Portuguesa e na afirmação da fé católica, que aponta para uma não existência, naquela época, de uma identidade e de uma cultura que possam ser, efetivamente e estritamente, chamadas de nacionais, mesmo na proposta de sê-lo. |