Resumo |
O presente trabalho preocupa-se em analisar as mobilizações sociais organizadas por mulheres na cidade de Viçosa, no contexto do processo de impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff aos momentos posteriores quando Michel Temer assume o cargo de presidente interino, compreendendo para isso o período de abril de 2016 ao mês de março de 2017. Dessa forma, coloca-se dois problemas iniciais: quais foram as mobilizações expressivas construídas por mulheres na cidade de Viçosa nesse período? Como elas se configuram ao contexto nacional de mobilizações sociais e aos momentos decisivos da política brasileira? Já em um segundo momento, a pesquisa dedica-se a responder quais são os aspectos que caracterizaram, construíram e delimitaram essas mobilizações. Propõem-se os objetivos de analisar a coesão do movimento de mulheres na cidade de Viçosa, dentro do período delimitado, investigando suas pautas, motivações e formas de organização, afim de estabelecer um diálogo com a corrente sociológica do Interacionismo Simbólico de Herbert Blumer e, a partir dele, compreender os casos apresentados em Viçosa. A metodologia utilizada foi de natureza qualitativa, primeiramente realizando um levantamento das mobilizações ocorridas durante o período proposto, dando prioridade de análise àquelas que foram mais expressivas, constituindo um estudo de cinco casos, dos quais três se caracterizam como marchas e dois como frentes organizadas. Depois recorreu-se às entrevistas semi estruturadas com cinco mulheres, cada uma previamente selecionada para tratar de uma determinada mobilização. Foram escolhidas as que participaram ativamente da organização, priorizando na análise dos dados aspectos referentes às formas de convocação, concentração e intervenção de tais mobilizações. Alguns resultados que a pesquisa conseguiu alcançar diz respeito às mulheres participantes das mobilizações, que dentro do olhar do interacionismo simbólico são entendidas como um objeto "self", este resultante do processo contínuo de interação social com outras pessoas e consigo mesma. Levando-nos a compreender a agência da mulher situada em um contexto que lhe faz se reconhecer enquanto mulher e perceber a necessidade de movimentação própria em vista dos acontecimentos analisados, logo, reconhecendo-se também enquanto atrizes políticas. A interação dessas sujeitas com outras, através de um processo formativo de sentido e compartilhamento dele, tornou possível a coesão e a organização dessas mobilizações coletivas, que foram permeadas de relações e ações simbólicas, refletidas principalmente nas formas de organização adotadas. Assim, através de uma leitura possível pelo interacionismo simbólico de tais casos, se faz necessário ressaltar a centralidade da mulher nesses espaços, percebidas não só como classe, mas também como agentes ativas, capazes de interpretar, ressignificar e compartilhar os sentidos sociais apresentados a elas. |