Resumo |
Um dos grandes desafios na prática clínica é a desnutrição infantil hospitalar. O risco nutricional deve ser identificado de forma precoce, porém não há um método específico para a triagem em pediatria. O StrongKids, instrumento de triagem triagem do risco de desnutrição em crianças hospitalizadas, foi traduzido e adaptado para o Brasil. O objetivo deste estudo foi avaliar a aplicação de um instrumento de triagem nutricional em pediatria, correlacionando-o com parâmetros antropométricos, bioquímicos, dietéticos e tempo de internação em crianças hospitalizadas no município de Viçosa, Minas Gerais. O StrongKids foi aplicado no período de agosto de 2016 a junho de 2017. Foram coletadas informações socioeconômicas, habitacionais, clínicas, bioquímicas, dietéticas e antropométricas das crianças hospitalizadas neste período. A correlação entre a pontuação do StrongKids com as variáveis nutricionais foi investigada pelo teste de Correlação de Spearman. A distribuição das variáveis segundo a classificação categórica do método (baixo, médio ou alto risco) foi avaliada pelo teste de Anova (post hoc de Tukey) ou Kruskal-wallis (post hoc de Dunn), conforme a assimetria das variáveis. Foi adotado um valor de p < 0,05 como indicativo de significância estatística. Foram avaliadas 303 crianças, sendo 58,4% do sexo masculino com mediana de idade de 2,67 anos (mín=0,01/máx=14,25). Segundo a avaliação antropométrica, 8,9% foram classificadas como magreza, 12,2% com risco de sobrepeso e 9,6% com excesso de peso. De acordo com a triagem pelo Strongkids, 11,9% das crianças estavam em alto risco nutricional, 71,3% apresentavam médio risco e 16,8% baixo risco. Foi identificada correlação direta entre a pontuação do StrongKids com o tempo de hospitalização (rho: 0,426; p<0,001), concentração de Proteína C Reativa (PCR) (rho: 0,143; p=0,047) e perda de peso (rho:0,378; p<0,001). As variáveis hemoglobina (rho: -0,152; p=0,023), hematócrito (rho: -0,153; p=0,022), valor calórico total (rho: -0,374; p<0,001), carboidratos (rho:-0,454; p<0,001), proteínas (rho:-0,369; p<0,001), lipídios (rho:-0,242; p<0,001), ferro (rho: -0,299; p<0,001) e zinco (rho: -0,153; p=0,028 se correlacionaram de forma inversa, indicando que as crianças com perda de peso e menor consumo alimentar apresentavam maior risco de desnutrição. Em relação à avaliação da classificação categórica do método, as variáveis tempo de internação (p<0,001) e PCR (p=0,047) aumentaram à medida que o risco nutricional foi maior, enquanto que houve diminuição no consumo de energia (p<0,001), carboidratos (p<0,001), proteínas (p<0,001) e ferro (p=0,002). O sistema de pontuação e a classificação categórica do StrongKids apresentaram associações com os parâmetros objetivos que avaliam o estado nutricional, o que elucida sua utilidade como uma ferramenta de triagem na identificação de crianças em risco nutricional. |