Resumo |
Desde 2013, com a implementação da Lei 12.711/12, a UFV reserva parte de suas vagas para ingresso nos cursos de graduação à estudantes de escola pública, pessoas autodeclaradas pretas, pardas e indígenas e de baixa renda. Esta pesquisa teve como objetivo conhecer e analisar as trajetórias sociais dos/as estudantes que ingressaram em cursos de graduação na UFV, Campus Viçosa, de 2013 a 2016, através das vagas reservadas a pessoas autodeclaradas negras (pretas e pardas). Assim, também objetivou-se analisar o impacto da implementação da Lei 12.711 na quantidade de vagas oferecidas, no intuito de construir um quadro quantitativo para posteriormente conhecer e analisar as especificidades de estudantes negros/as e cotistas. Interessou-nos, nestas trajetórias, o percurso escolar, as relações entre família e escola, os motivos e estímulos para acesso à universidade, os entendimentos e concepções sobre as cotas, bem como as experiências enquanto estudantes universitários/as. Assim, duas estratégias metodológicas se mostraram pertinentes para o entendimento da problemática e dos objetivos da pesquisa, são elas: análise de dados e entrevista/história oral. Em um primeiro momento foi realizado um levantamento da quantidade de vagas e matrículas de estudantes que ingressaram na Universidade Federal de Viçosa através das cotas para pessoas autodeclaradas negras (pretas ou pardas), no período de 2013 a 2016. Em um segundo momento, foram entrevistados/as 16 (dezesseis) estudantes negros/as cotistas escolhidos de modo aleatório, dos quatro Centros de Ciências (Agrárias; Biológicas e da Saúde; Exatas e Humanas, Letras e Artes), de cursos com notas de corte diferenciadas no Sistema de Seleção Unificada (SISU). A partir desta pesquisa podemos constatar que a implementação de cotas na UFV só ocorre com Lei 12.711, ao contrário de outras universidades brasileiras que tinham já algum tipo de ação afirmativa. Com relação às trajetórias sociais, os/as estudantes negros/as e cotistas, em sua grande maioria apresentam um percurso escolar onde a família ocupa uma centralidade. Existe uma preocupação com a formação escolar dos/as filhos/as, o entendimento da educação como via de mudança da posição social. Assim, os motivos, estímulos e estratégias que levam à entrar em um curso de graduação na UFV, são moldados como um projeto de vida, que é familiar, e internalizado pelo indivíduo. Para tanto, as cotas funcionam como um instrumento, ou ainda uma estratégia de ingresso na Universidade. A universidade se configura e significa uma ferramenta que pode propiciar uma mobilidade social. Ademais, esta pesquisa traz várias reflexões que podem ser lidas de modo a avaliar a ainda recente Lei de Cotas, bem como analisar e conhecer as trajetórias sociais de parte do público que é beneficiado por esta política pública que objetiva uma maior democratização e inclusão no ensino superior. |