Resumo |
Introdução: habitar a rua se constitui como um fenômeno social que deflagra um problema de saúde pública em virtude das desigualdades sociais injustas, desnecessárias e evitáveis, também chamadas de iniquidades sociais em saúde. O contexto da rua é marcado por vivências singulares, como o rompimento familiar, vícios, violência, exploração, solidão e medo. Comumente essas pessoas estão destituídas dos seus direitos sociais básicos, como moradia, saúde, educação, lazer, trabalho, segurança, entre outros o que reforça as iniquidades sociais em saúde. A Política Nacional para Pessoa em Situação de Rua (PNPSR), instituída em 2009, veio para preencher esta lacuna e viabilizar que esse grupo social tenha acesso aos direitos básicos de cidadania, porém após aproximadamente uma década, observa-se empiricamente que esses direitos continuam não sendo assegurados na prática, em virtude dos próprios profissionais e serviços possuírem escassa ou nenhuma formação e experiência para abordar e acolher pessoas em situação de rua. Objetivo: compreender as necessidades em saúde da população em situação de rua e a produção e as aspirações de cuidado nesta realidade social. Metodologia: estudo qualitativo realizado com oito pessoas em situação de rua de um município de Minas Gerais. Os dados foram coletados por meio de entrevista com questões abertas entre setembro de 2016 a junho de 2017 e analisados a partir da técnica de Análise de Conteúdo de Bardin. O estudo obteve parecer favorável do Comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Viçosa, inscrito sob o parecer nº 1.668.567. Resultados: a vivência na rua traz a tona necessidades em saúde relacionadas às necessidades humanas básicas, com destaque para a segurança, dificuldade de obtenção de alimentos, local adequado para sono/repouso e para a realização das necessidades fisiológicas. O acesso aos serviços de saúde também é uma necessidade dessa população, que é dificultado pela ausência de programas ou serviços voltados para o atendimento desse público e pela ausência de documentos de identificação. A partir das necessidades vivenciadas no cotidiano, esses indivíduos tecem redes de relações e produzem cuidado. Esse cuidado envolve o campo físico-biológico, espiritual e afetivo-social. Em relação às expectativas de cuidado, alguns participantes desejam ser assistidos por albergues, enquanto outros anseiam deixar a rua e possuir uma moradia própria. Outras expectativas emergidas dos discursos se trata de haver continuidade do cuidado na rua e tratamento dos vícios em clínicas de recuperação. Conclusões: as políticas sociais, com destaque para a saúde e os profissionais que atuam neste setor, devem atuar para o atendimento das necessidades e expectativas de cuidado emergidas nesta investigação. Para tanto, os profissionais devem se valer de uma escuta qualificada bem como promover ações políticas, transformadoras e dotadas de senso de justiça social. |