Resumo |
Esta pesquisa se propõe a discutir as articulações da cultura terapêutica no ambiente online, através da análise dos sentidos atribuídos à depressão no Facebook. A Cultura Terapêutica representa uma série de processos de individualização do sujeito que ocorrem na sociedade contemporânea a partir da edificação da psicologia, psiquiatria e psicoterapia como ciências. Uma das características desta cultura é a apropriação de termos inicialmente exclusivos dessas áreas para questões cotidianas. De acordo com Furedi (2004) termos como ansiedade, estresse, depressão, entre outros, originalmente presentes no vocabulário das ciências psi, nos últimos anos foram importados e ressignificados para o imaginário cultural mais amplo. De acordo com Saint Clair (2015), a depressão passa por uma alteração de sentido a partir da década de 1990. Através da observação de periódicos entre 1970 e 2010, ele identifica que o termo inicialmente pouco aparecia na mídia e significava um mal coletivo, mas a partir de uma série de alterações socioculturais e econômicas, ele passa a carregar o significado com o qual estamos familiarizados atualmente, como um mal-estar subjetivo. Outra característica dessa cultura é a construção da imagem de psicólogos e terapeutas como figuras de autoridade, que detêm o conhecimento para a administração correta do bem-estar pessoal, que se torna o principal objetivo da vida dos indivíduos. Portanto, através da análise de páginas do Facebook, buscamos interpretar alguns dos sentidos atribuídos à depressão na plataforma, a fim de compreender como esta cultura é negociada na internet. A metodologia utilizada foi a cartografia, proposta por Barros e Passos (2014), que compreende o trabalho científico como o acompanhamento de processos, sem um viés totalizante. Na fase inicial da pesquisa, foi possível identificar cinco tipos de páginas, transformadas em categorias de análise, pois dialogam com diversos aspectos da Cultura Terapêutica. A primeira delas é representada por páginas humorísticas cujo conteúdo não possui ligação com questões relacionadas à saúde mental, em que o termo "depressão" está presente apenas no nome das páginas. Em seguida, analisamos uma categoria cujo humor é provocado ao ironizar e criticar o cotidiano de quem convive com a depressão. Observamos também duas categorias em que o foco é a orientação e o aconselhamento de profissionais. Uma delas é composta por páginas de psicólogos, psiquiatras e psicoterapeutas, enquanto a outra por profissionais da saúde em geral. Por fim, a última categoria analisada apresenta sujeitos que sofrem ou sofreram com o transtorno e encontram no Facebook uma forma de falar sobre o assunto. Os dados coletados estão sendo interpretados com a ajuda de autores como Ehrenberg (2016), Vaz (2014), Ortega (2008) e Illouz (2011). Assim, pretende-se compreender alguns dos sentidos negociados na plataforma para abordar a depressão, e observar como a Cultura Terapêutica é experimentada no site. |