Resumo |
Quitosano [poli-(β-(1-4))-2-amino-2-desoxi-D-glicopiranose] é um polissacarídeo obtido industrialmente, pela desacetilação da quitina, que por sua vez é proveniente do exoesqueleto de crustáceos processados pela indústria pesqueira. Esse biopolímero pode ser disperso em meios aquosos ácidos pois, em tais meios, seus grupos amino são protonados, favorecendo a repulsão eletrostática entre as cadeias poliméricas e as interações quitosano-solvente e quitosano-X (X = contra-ânion do ácido). Diversas aplicações do quitosano na área médico-farmacêutica já são conhecidas (p. e.x.: próteses dérmicas, excipientes etc.). Além disso, o foi demonstrado que o quitosano interage com lipídios no trato gastrointestinal de mamíferos, fazendo com que parte deles seja excretada sem ser metabolizada. Assim, a caracterização de propriedades moleculares e de propriedades técnico-funcionais do quitosano aparece como imprescindível para possibilitar novas aplicações desse biopolímero em alimentos. No presente estudo, foi aplicado um protocolo clássico de viscosimetria para se estimar a massa molar viscosimétrica média de quitosano comercialmente obtido, com e sem dessalinização prévia. Para tal, inicialmente 1 g de quitosano foi adicionado a 100 mL de água deionizada (Millipore, Direct QUV3, Itália). O sistema foi agitado durante 60 minutos (Tecnal, TE-184, Brasil) e, durante esse tempo, a condutividade elétrica (CE) (Thermo, Orion 145A+, EUA) da fase aquosa atingiu 90-100 µS∙s-1. Em seguida, filtrou-se o sistema em papel qualitativo, recuperou-se a fração insolúvel e repetiu-se esse procedimento mais duas vezes. Observou-se então que a CE na fase aquosa se situou na faixa 5-8 µS∙s-1, sugerindo a eliminação de grande parte dos sais inicialmente presentes. O quitosano dessalinizado foi liofilizado (Terroni, LS3000, Brasil) e, então, cinco dispersões do biopolímero [0,05; 0,10; 0,15; 0,20; 0,25 g∙(100mL)-1] foram preparadas em solução-tampão de ácido CH3COOH/CH3COO-Na+ (pH 4,41; força iônica = 0,1 mol∙L-1). A partir dos tempos de escoamento dessas dispersões em viscosímetro capilar (Cannon-Fenske 51310, Schott, Alemanha), obteve-se a viscosidade intrínseca de Huggins ([η]H = 8,9033 dL∙g-1), a de Kraemer do quitosano ([η]K = 8,9111 dL∙g-1) e a média ([η] = 8,9072 dL∙g-1). Finalmente, aplicando a equação de Mark-Houwink-Sakurada, determinou-se a massa molar média viscosimétrica média (MV = 625 kDa). Comparando esse resultado com a MV do mesmo quitosano comercial sem dessalinização (MV = 540 kDa), conclui-se que a dessalinização prévia foi efetiva para a remoção de sais e quitooligossacarídeos que, se presentes, levam a uma subestimação da massa molar viscosimétrica do biopolímero. |