Resumo |
A presente pesquisa pretendeu discutir a importância de se oferecer atenção a grupos estudantis, denominados neste trabalho de “coletivos”, que ganharam consistência, por um tempo de provisoriedade, nos cotidianos da Universidade Federal de Viçosa/MG (UFV). Entendemos por “coletivo” a construção social praticada por discentes que se unem em torno de uma proposta político-estético-ideológica, na intenção de se articular na luta contra alguma opressão perpetrada a um grupo específico. Por considerarmos a vida universitária como sendo um espaço formativo que se estende para além das salas de aula, seguir as construções grupais erigidas pelos estudantes nos coletivos se tornou uma significativa dimensão para problematizar não apenas o que é dado como já estabelecido como orientação formativa dos cursos universitários, mas também para pensar as ações e modos de existir que estão em vias de emergir em diferentes contextos e saberes dentro do movimento estudantil da UFV. Procuramos seguir alguns modos de produzir conhecimento e maneiras de existir construídas nas práticas dos coletivos, procurando cartografar as produções de realidade que pudessem vir a intervir nas ações do movimento estudantil, na vida cotidiana dos discentes e na própria política universitária como um todo. Assim, para realizar essa intenção cartográfica de pesquisa, passamos a realizar entrevistas com alguns participantes de coletivos. Contudo, enquanto realizávamos essas entrevistas, um acontecimento inusitado ganhou corpo na UFV, em outubro de 2016, quando um grupo de estudantes, todos ligados a coletivos, ocupou o Edifício Arthur Bernardes, conhecido como Bernardão, e um dos principais núcleos administrativos da instituição. Seguimos, então, esse movimento de discentes na ocupação para cartografar os modos de produção de saberes que potencialmente pudessem emergir. Conversamos e acompanhamos os movimentos dos coletivos discentes que se articulavam na condução da ocupação do Edifício Arthur Bernardes e que se denominaram ”Coletivo Ocupa Bernardão”: um coletivo engendrado em coletivos. É nesse conversar-acompanhar-participar acompanhamos um pouco das redes de relações e tensões estabelecidas no movimento estudantil da UFV, em especial aqueles que se tramavam no movimento estudantil na dimensão da formação de coletivos. Concluímos que o movimento estudantil da UFV sofre influência direta de diferentes coletivos, que com pautas diversas, (diversidade sexual, feminismo, questões étnico-raciais etc) se fortificam e passam a definir estratégias não apenas no cenário estudantil, mas também influenciar no direcionamento de políticas institucionais da universidade. Assim, ao se seguir as produções de conhecimento promovidas pelos diferentes coletivos, não nos encontramos em um campo de harmônico relacionamento, mas a movimentos vivos, intensos, contraditórios e inventivos que não se restringem apenas à questão institucional envolvida na organização da relação DCE-Centros Acadêmicos. |