Resumo |
Introdução: a população em situação de rua (PSR) constitui um fenômeno de dimensões universais, fruto de iniquidades e reforçado pela exclusão social. As pessoas que constituem essa população utilizam logradouros públicos e áreas degradadas como espaço de moradia e de sustento, habitando especialmente os centros urbanos, de forma temporária ou permanente. Caracterizam-se pela sobrevivência em meio à extrema pobreza e vulnerabilidade, que impõe estigmas, violência, sofrimento e rompimento de vínculos afetivos. Sendo assim, sobrevivem a manifestações diversas das iniquidades sociais, como o fato de terem negligenciado o direito humano fundamental da atenção à saúde. Neste sentido, é de suma importância que profissionais da Enfermagem, em especial os que atuam no Sistema Único de Saúde (SUS), conheçam os motivos que deflagram a ida para as ruas, bem como as experiências e dificuldades vivenciadas nesse contexto. Tal compreensão é uma importante ferramenta para que enfermeiros desenvolvam competências visando atenderem de forma qualificada às necessidades dessa população. Objetivo: compreender os motivos pelos quais as pessoas são conduzidas a habitarem as ruas e as experiências vivenciadas nessa realidade social. Material e métodos: estudo qualitativo realizado com sete pessoas em situação de rua de um município do interior de Minas Gerais. Os dados foram coletados por meio de entrevista com questões abertas entre setembro e novembro de 2016 e analisados a partir da técnica de Análise de Conteúdo de Bardin. O estudo, inscrito sob o parecer nº 1.668.567, foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Viçosa. Resultados e discussão: emergiram as categorias “O encontro da rua como a saída”, “O cotidiano na rua” e “A rua e a vulnerabilidade para a violência: desafios e enfrentamentos”. A rua é vislumbrada como a saída diante de problemas vivenciados, como uso de álcool, drogas ilícitas e conflitos familiares. O cotidiano da rua é marcado pelos vícios – que nesse contexto se intensificam-, pelas atividades de higiene, sono e repouso, trabalho, relações sociais e ausência de responsabilidades. Revelou-se, tal como a literatura aponta, que o sentido do trabalho transcende à contribuição financeira, visto que oferece dignidade, sustento para os vícios e possibilita o estabelecimento de uma rede de relações. Esses laços de afeto e solidariedade criados são determinantes, possibilitando o equilíbrio dinâmico entre integridade e vulnerabilidade. A violência se configura como o maior desafio enfrentado nesse cotidiano. Os sujeitos tecem estratégias frente a todas as dificuldades vivenciadas, e revelam que a PSR busca muito mais que a mera sobrevivência biológica. Conclusão: A realidade estudada traz peculiaridades que, após compreendidas, devem se desdobrar em ações no âmbito da prática, ensino e pesquisa em saúde, a fim de melhor atender esse grupo social historicamente excluído das políticas e práticas de saúde. |