Resumo |
Nesta pesquisa, buscamos promover reflexões sobre como o “corpo diferente”, o que não atende aos padrões de normatividade hegemônica, é construído e representado nas práticas midiáticas jornalísticas sob a perspectiva dos estudos discursivos críticos (FAIRCLOUGH, 2001, 2003). Selecionamos cinco manchetes de notícias em ambiente on-line, e seus respectivos títulos auxiliares, que divulgaram a morte da travesti Luana Muniz, em 06 de maio de 2017. A análise foi desenvolvida a partir de subsídios fornecidos pela ADTO (FAIRCLOUGH, 2001), pelo Sistema de Transitividade (HALLIDAY & MATTHIESSEN, 2004) e pela Teoria dos Atores Sociais (LEEUWEN, 1996), com o objetivo de compreender como se constroem os discursos sobre as identidades travestis e, principalmente, quais são as representações desse corpo nas práticas midiáticas jornalísticas on-line selecionadas (G1, Blasting News, Diário On-line, Estadão e O Dia). A partir das macrocategorias sociológicas de inclusão e exclusão (LEEUWEN, 1996), buscamos analisar como os atores envolvidos nas notícias foram representados nessas práticas midiáticas. Constatamos que Luana Muniz é identificada sempre como travesti, categoria que ora corresponde a uma identidade de gênero, ora a uma função social. Além disso, o destaque dado a ela ocorre sempre em relação à foto com o Padre Fábio de Melo e, apenas em alguns portais, menciona-se o trabalho social desenvolvido por ela, motivo, inclusive, de sua relação com o Padre. Ainda quando seu nome segue acompanhado do atributo “ativista”, o destaque é dado à foto. Isso nos indica que, embora Luana tenha sido figura importante no processo de participação de autonomia e empoderamento de outras travestis, seu projeto social está sempre posto em segundo plano. O que interessa à mídia é noticiar a morte da travesti envolvida com o Padre, e não a travesti responsável pela emancipação de outras em uma esfera social transfóbica, o que dificulta este processo de empoderamento e reproduz estereótipos e diversos tipos de violência sobre essas identidades. Logo, as escolhas lexicais, os processos de classificação e funcionalização e os interdiscursos produzidos nas manchetes e nos subtítulos contribuem para a manutenção das relações assimétricas de poder, desigualdades de gêneros e práticas excludentes. |