Resumo |
O trabalho é resultado de uma observação participante realizada entre abril e junho de 2016, período em que estava sendo ministrada a disciplina de Antropologia II, oferecida pelo Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Viçosa. A partir das reflexões propostas na disciplina, situamos nossa pesquisa na área de Antropologia das relações entre humanos e animais. Partimos de pressupostos epistemológicos daquilo que ficou conhecido como a “virada ontológica” na Antropologia, a partir da qual corpos não humanos, como objetos e animais, assumem um papel de sujeito social dotado de agência. O trabalho utiliza-se de categorias como corpos estigmatizados, representado em nossa observação por J., e corpos não humanos, representado por P. O objetivo do trabalho é compreender o modo como se desenvolvem as relações entre J. (humano) e P. (animal), assim como as interações sociais que ambos os corpos desenvolvem na estrutura social em que estão localizados. Entendemos a estrutura social como o emaranhado de relações com outras pessoas, com espaços e os objetos físicos e sociais com quem ambos convivem. A produção de dados se fez, sobretudo, a partir de diálogos realizados durante os trajetos diariamente percorridos pelos pesquisados e a partir de observações de P. Em um primeiro momento, baseamos nossas pesquisas no conceito de extensão corporal, como se P. fosse, de algum modo, uma extensão de J. No entanto, ao longo da análise dos dados produzidos, percebemos a inconsistência dessa escolha. Nossos dados apontavam para a noção de que o corpo animal de P. é, na verdade, um sujeito dotado de agência, isto é, um sujeito que pode intervir e modificar o significado das interações e do mundo social, de modo que essas mesmas interações desenvolvidas e travadas entre J. e as pessoas de seu entorno fossem modificadas com a presença de P. Nesse sentido, nossa proposta dialoga com o conceito de mediador(a), o que nos orienta para a ideia de que P. seja uma mediadora das relações mistas (de um “normal” com um estigmatizado) entre J. e a estrutura social, trazendo à interação um novo significado. O corpo animal de P. apresentou relevante importância na interação de J. (humano) com a estrutura social, uma vez que a interação de J. com o seu meio social é expandida pela presença e ações de P. Como exemplo dessa expansão podemos compreender o modo como P. consegue mediar as relações sociais de J., seu “dono”, devido à sua presença não humana ser um "atrativo" para as pessoas. Dessa forma, é possível compreender como o comportamento do corpo animal, em nossa pesquisa, não é intimamente ligado ao corpo humano, mas sim um corpo independente e capaz de produzir significados, ao mesmo tempo em que faz mediações nas interações entre humanos, dotando-as de significados próprios. |