Resumo |
A região Nordeste abriga quase a metade de sua população nas zonas rurais, sendo que parcela expressiva apresenta dependência do setor agrícola em termos de geração de renda. Como o setor agrícola da região tem alto potencial de impactos negativos devido às mudanças climáticas, o Nordeste apresenta grande vulnerabilidade socioeconômica. As alterações do clima têm potencial de provocar efeitos migratórios do tipo rural-urbano, devido ao efeito negativo sobre a produção agrícola. Portanto, o presente estudo procurou compreender o processo migratório rural-urbano, analisando se os fatores climáticos têm contribuído para o deslocamento de pessoas no período de 1991 a 2010. Metodologicamente, estimou-se um modelo de dados em painel com efeitos fixos. Além das variáveis climáticas relativas à temperatura e precipitação, foram considerados também fatores socioeconômicos, tais como acesso a escolas no meio rural, uso de irrigação, população rural com idade mais propensa a migrar e o diferencial entre salário rural e urbano. Com base nos resultados, pôde-se concluir que a temperatura é a principal variável responsável pelo efeito migratório na região Nordeste. Com o aumento da temperatura, o déficit hídrico da região poderá aumentar. A ausência de chuva poderá provocar desertificação e secas em determinadas regiões. Com isso, aumenta a necessidade do uso de irrigação, uma medida que poderia manter o agricultor no campo. Outra importante variável que explica a migração rural-urbana no período analisado foi a disponibilidade de escolas no meio rural. Isso indica que quando se tem mais oportunidades de acesso à educação, menor tende a ser o êxodo rural. Esses resultados indicam a necessidade de apoio de órgãos governamentais, contribuindo para o avanço das políticas de irrigação na região, além de assistência técnica para garantir o manejo adequado dos sistemas. Deve-se incentivar também o uso de outras técnicas de produção que estejam alinhadas com os cenários climáticos esperados para o futuro. As políticas públicas devem, portanto, garantir a permanência do homem no campo, com qualidade de vida. Por outro lado, caso a migração rural-urbana continue se intensificando ao longo dos próximos anos, é de grande responsabilidade do poder público em preparar o meio urbano para o recebimento desses migrantes. Deve-se investir em ações que aumentem o número de empregos e melhorem as condições de vida, saúde e saneamento básico. É preciso garantir a cidadania desses migrantes, minimizando desigualdades e preconceitos. Acolher da melhor forma possível migrantes, tornará a sociedade menos violenta, mais democrática e desenvolvida do ponto de vista humano. |