Resumo |
Derivados de armas químicas, os agrotóxicos surgiram como solução para suprir a demanda de alimentos, sendo utilizado como argumento o caráter protetor à lavoura pelo combate às pragas e doenças. No entanto, os seus efeitos nocivos causam preocupação, principalmente, no que diz respeito à exposição ocupacional, uma vez que os agrotóxicos agem diretamente no organismo do ser humano. Concentrações encontradas em alimentos, água e ambientes contaminados podem gerar alterações hormonais e reprodutivas, danos hepáticos e renais, disfunções imunológicas, distúrbios cognitivos, neuromotores e cânceres a indivíduos expostos. Estudos ainda relacionam trabalho de pulverização nas culturas com doenças agudas que atingem a pele, olhos e trato respiratório, e ocasionam insônia, anemia, cefaleia, depressão e distúrbios do comportamento. O presente trabalho objetivou avaliar as condições de saúde de agricultores familiares que utilizam produtos químicos na produção de alimentos. Trata-se de um estudo transversal realizado no período de março a junho de 2017, em uma comunidade rural do município de Viçosa-MG, com 28 agricultores familiares responsáveis pelo cultivo. Foi realizada pesquisa de campo com aplicação de questionário semiestruturado contendo variáveis para caracterização quanto à produção de alimentos, uso de agrotóxicos e presença de doenças. Os dados foram analisados no SPSS (versão 20.0). Foram realizadas análises descritivas e o teste Qui-quadrado de Pearson para verificar a associação entre as variáveis de interesse. O nível de rejeição da hipótese de nulidade foi de 0,05. Os participantes do estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido em duas vias, sendo garantido o sigilo dos dados. O presente estudo faz parte de um projeto guarda-chuva submetido e aprovado ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres humanos da Universidade Federal de Viçosa, sob o número (CAAE 61525916.7.0000.5153). Observou-se que 46,5% (n=13) utilizam agrotóxicos, 32,1% (n=9) já utilizaram e 21,4% (n=6) nunca utilizaram. Dentre os entrevistados, 85,7% (n=24) relataram apresentar uma ou mais destas doenças: anemia, alergias/dermatites, insônia, doença renal, doença respiratória, depressão, hipertireoidismo e câncer, sendo encontrada associação entre uso de agrotóxicos e relato de pelo menos uma destas doenças (p=0,02). A exposição ocupacional a produtos químicos utilizados na produção de alimentos pode contribuir para o desenvolvimento de doenças agudas e crônicas relacionadas aos ingredientes ativos dos agrotóxicos como foi evidenciado nos resultados encontrados, considerando-se o uso de agrotóxicos associado à presença de doenças, na maioria dos agricultores familiares entrevistados. |