Resumo |
As escolhas alimentares podem ser influenciadas pelo estado emocional e psicológico. Nesse contexto, a depressão e a ansiedade estão associadas à preferência por alimentos adoçados e processados, bem como menor ingestão de alimentos in natura, o que favorece o desenvolvimento e progressão de doenças cardiovasculares. O objetivo do estudo foi avaliar a relação entre o auto-relato do estado emocional e mudanças no consumo alimentar com uso de medicamentos, indicadores de adiposidade e inflamação subclínica em usuários do Programa de Atenção à Saúde Cardiovascular-PROCARDIO-UFV. Foi aplicado questionário para coletar informações sobre estado emocional, uso de medicamentos, atividade física, tabagismo e dados sociodemográficos. Foi aplicado recordatório 24 horas e a composição dos alimentos foi estimada com auxílio do Software DietPro (versão 5.8.1). Peso e altura foram aferidos de acordo com protocolo padronizado. O índice de massa corporal (IMC) foi calculado e usado para classificação da amostra quanto à ocorrência de excesso de peso. A proteína C reativa ultrassensível foi determinada por exame de sangue realizado após jejum de 12 horas no Laboratório de Análises Clínicas da Divisão de Saúde (UFV), segundo método de imunoturbidimetria. Como resultados, o relato da influência do estado emocional sobre o consumo alimentar esteve prevalente em 67% da amostra total, principalmente entre as mulheres (78,7% vs 52,2%, p<0,001). Entre aqueles que relataram mudar hábitos alimentares de acordo com estado emocional, 62% aumentavam a quantidade total de alimentos ingeridos e 25,3% aumentavam a ingestão de doces. Além disso, apresentaram, maior ocorrência de inflamação subclínica (PCR>3 mg/L, 47,1% vs. 70,2%, p=0,042), uso de antidepressivos (15,8% vs. 84,2%, p=0,017) e tranquilizantes (65,6% vs. 84,6%, p=0,040), bem como ingestão excessiva de açúcares simples (> 10% do Valor Calórico Total, 63,1% vs. 80,8%, p=0,005). Houve também maior prevalência de excesso de peso (IMC ≥ 25,0 kg/m2 para adultos e ≥ 28,0 kg/m2 para idosos, 59,7% vs. 70,4%, p=0,112), que apesar de não significante, foi clinicamente expressiva. Em conclusão, o estado emocional foi relacionado com inflamação subclínica, ingestão excessiva de açúcar e uso de antidepressivos e tranquilizantes em indivíduos com risco cardiometabólico atendidos no PROCARDIO-UFV, sugerindo que o trabalho multidisciplinar (acompanhamento nutricional e psicológico) pode ser determinante para o sucesso do tratamento clínico-nutricional e controle das doenças cardiovasculares. |