Resumo |
As mudanças climáticas, a segurança energética, o esgotamento das fontes energéticas não renováveis e a produção de energia a partir de insumos renováveis são temas controversos, ainda mais quando imbricados. Dentre os artefatos que são alvos de controvérsias, atualmente, estão as fontes alternativas de energia. Este trabalho de pesquisa teve por objetivo aprofundar o trabalho realizado nos últimos dois anos de mapeamento das controvérsias científicas, ambientais e sociais a respeito do papel do biodiesel como fonte alternativa de energia combustível no Brasil. No ano de 2016/2017 o objetivo foi direcionado para a investigação das controvérsias do conhecimento tecnocientífico referente à pesquisa com novas e conhecidas matérias-primas e a especificação tecnológica do biodiesel, para enfatizar a rede de atores envolvidos nas pesquisas sobre as diversas matérias-primas, a especificação do biodiesel, e seus efeitos tecnocientíficos, ambientais e sociais. A partir do desenho de uma pesquisa qualitativa nas ciências sociais, utiliza-se a técnica cartografia de controvérsias para explorar e visualizar questões do debate sociotécnico contemporâneo sobre a produção e uso de biodiesel no Brasil, como a pesquisa documental, via web e entrevistas. Foram realizadas entrevistas qualitativas com cinco pesquisadores que têm relação direta com as controvérsias que envolvem o biodiesel. Foram mapeados discursos, práticas e interesses emergentes nas redes institucionais governamentais e nas redes de produção do conhecimento e implementação tecnológica do biodiesel na matriz energética brasileira. Verifica-se que as matérias-primas para produzir biodiesel se configuram como atores inumanos dessa rede tecnocientífica e, no processo de concepção e adoção dos insumos para produzir biodiesel, elas perpassam por uma série de controvérsias. As matérias-primas também se deslocam pelas instâncias de purificação, ou seja, pelos laboratórios, para assim essas centrais de cálculo “purificar” as matérias-primas para articular os campos ambiental, social e econômico na sua concepção. As especificações do biodiesel, nesse contexto, são parâmetros físico-químicos e modelos técnicos que também se configuram como atores não humanos dessa rede sociotécnica. Esses atores não humanos demandam que o biodiesel passe pelo laboratório tanto no processo de concepção quanto no de adoção. O laboratório, nesse sentido, delineia-se como um ponto de passagem obrigatório neste entrecruzamento da rede, configurando-se como uma das centrais de cálculos fundamentais no processo de “purificação” do artefato biodiesel. Logo, conclui-se que a rede do biodiesel se configura simultaneamente como uma rede de concepção e adoção e, com o objetivo de se consolidar como uma “caixa-preta”, essa rede mobilizou e ainda mobiliza redes de negociações entre diversos atores heterogêneos, demandando a renegociação de laços de redes antigas e o surgimento de novas redes. |