Resumo |
Entre os principais desafios enfrentados pelas empresas de saneamento no Brasil destaca-se o manejo (tratamento e destinação final) dos resíduos de estações de tratamento de água (ETA). Na busca por soluções para esse passivo ambiental, devem ser incentivadas alternativas que promovam a valorização e aproveitamento do resíduo em fins produtivos, em detrimento do simples descarte. Nesse sentido, o presente trabalho buscou avaliar a viabilidade de incorporação do lodo de ETA na produção de tinta imobiliária a base de água. Essa possibilidade é baseada no conhecimento já consolidado na produção de tinta com solo e na similaridade de composição do lodo de ETA e de solos utilizados na produção de tinta (ex.: proporções elevadas de silte e argila alto teor de óxido de ferro). Como matéria-prima foram utilizados dois tipos de lodo: (i) de uma ETA que utiliza PAC (policloreto de alumínio) como coagulante; e (ii) de uma ETA cuja água bruta apresenta elevados teores de ferro e que utiliza o cloreto férrico como coagulante. Foram testadas duas resinas usualmente empregadas na produção de tinta imobiliária a base de água: PVA e acrílica. O desenvolvimento da tinta de lodo obedeceu às seguintes etapas: (i) teste de produção da tinta com lodo in natura; (ii) tratamento do lodo por via ácida (H2SO4 1 N) e alcalina (NaOH 1N) para remoção do coagulante e de matéria orgânica; (iii) ensaios de desagregação mecânica e de defloculação química do lodo utilizando silicato de sódio; (iv) preparação das tintas, proporção (em volume) de 85% de lodo e 15% de resina, variando o teor de sólidos do lodo (10, 12, 14 e 16%); e (v) análise de estabilidade e desempenho (viscosidade, cobertura e aderência) das tintas. Observou-se crescimento de fungos nas tintas armazenadas produzidas com lodo in natura e, no caso das tintas produzidas com lodo de PAC in natura, descamação após 30 dias da aplicação. O tratamento alcalino mostrou-se mais efetivo na melhoria da qualidade da tinta. Leituras do potencial zeta e testes de resistência especifica indicaram que o tratamento alcalino proporciona previamente a dispersão das partículas do lodo. Nesse sentido, o incremento na defloculação promovida pela adição do silicato de sódio foi muito baixo para as amostras de lodo tratado. A viscosidade mostrou-se crescente com o teor de sólidos, tornando-se um limitante para a aplicação da tinta. Por outro lado, o aumento no teor de sólidos implicou aumento do poder de cobertura, para as duas resinas avaliadas A manutenção de pH acima de 9 em amostras de lodo armazenadas por período superior a 60 dias inibiu a proliferação de fungos. O baixo poder de cobertura apresentado pelas tintas incentivou a adição de caulim como pigmento branco. A avaliação preliminar da adição de caulim e seu reflexo no poder de cobertura levou a resultados positivos para ambas as resinas avaliadas. |