Resumo |
La vista desde el puente (2011), romance de Ramiro Sanchiz, se insere em um contexto de produção literária pós-crise sofrida por Uruguai no início do século XXI, na qual jovens escritores, repensando os conceitos que tinham sobre seu país e a literatura nele produzida, começam a escrever obras de cunho fantástico que se opõem ao cânone literário estabelecido por autores realistas e preocupados com o social como Eduardo Galeano e Mario Benedetti. O desafio desses jovens e de Sanchiz em particular é faraônico por ter que preparar uma recepção da obra que se está construindo, a qual precisa vencer interesses dominantes e estabelecidos no campo intelectual que se inclinam preferencialmente ao mencionado realismo, que não desafia o stato quo e a tradição dominante no Uruguai. Ao contrário, ratifica seu conservadorismo. Esta realidade, junto ao pequeno mercado editorial do país, tem feito com que este escritor busque inserir seu trabalho num espaço de leitores maior, publicando seus livros em várias praças editorias e em edições digitais, além de publicar textos críticos em diversas revistas, sejam elas impressas ou não, onde vai explicitando os pressupostos sobre os quais está construindo sua obra. Assim, seu trabalho como crítico é fundamental. Este trabalho objetiva estudar La vista desde el puente dentro desse contexto, perguntando-se como a obra dialoga com o relato histórico do símbolo nacional Artigas (eixo central deste romance), elevado à categoria de mito pela historiografia, na medida que no enredo da ficção se propõe uma releitura de alguns aspectos chave de acontecimentos históricos locais, os quais são imaginados no marco de uma ucronia distópica. Ademais, considerando que a escolha do gênero ucronia é uma atitude política em si para propor o mencionado diálogo com a história, faz-se necessário pensar e pesquisar sobre a atual situação da ficção científica no Uruguai e seus pressupostos. Para a realização da pesquisa, o primeiro momento consistiu em uma leitura do romance, a partir do qual estão sendo problematizados os demais aspectos levantados até aqui, abordados por meio de leituras de textos críticos sobre a obra, além de outros materiais recentes que se interrogam sobre a reescrita da identidade uruguaia pela geração pós-ditadura, a história da ficção científica no país, o trabalho ficcional de Sanchiz, dentre outros textos chave. Até o presente momento concluímos que o romance analisado é significante na literatura uruguaia por questionar, através de um texto que mistura literatura fantástica e romance policial à ficção científica, a legitimidade da figura endeusada do herói nacional Artigas. |