Resumo |
Características microestruturais de pêlos vêm sendo usadas para a identificação de espécies em pesquisas taxonômicas, ecológicas, paleontológicas, arqueológicas e forenses. Em muitos casos a morfologia de pêlos pode ser o único recurso para identificação de espécies ingeridas por predadores em amostras de conteúdo estomacal, material fecal, ou rastros encontrados em trilhas. Neste caso, o estudo da tricologia é fundamental para a identificação, caracterização e monitoramento de populações que têm indivíduos predados por carnívoros, como por exemplo os quatis. Este estudo tem como objetivo a descrição da microestrutura dos pêlos de Oligoryzomys nigripes e Rhipidomys mastacalis, espécies comumente encontradas em dieta de quatis. A metodologia e a classificação utilizada foi a proposta por Quadros (2002). Os pêlos foram coletados na região de intersecção da linha mediana com a linha escapular no dorso de espécimes taxidermizados disponíveis no Museu de Zoologia João Moojen. Foram descritas apenas as características da cutícula e da medula dos pêlos-guardas, pois estes apresentam similaridade para indivíduos de uma mesma espécie, sendo diferentes entre as espécies. Os pêlos foram lavados em álcool comercial e secos em papel absorvente. Para a impressão da cutícula, as lâminas foram montadas com uma fina camada de esmalte incolor para unhas e prensados entre dois pedaços de madeira por uma morsa de bancada. Para obtenção da medula, os pêlos foram diafanizados em água oxigenada 30 volumes por 80 minutos, lavados em água e secos em papel absorvente. As lâminas foram preparadas utilizando-se Entellan®. Todas as amostras foram observadas em microscópio óptico, visualizadas no aumento 400x. Foi observado que o pêlo de Oligoryzomys nigripes apresenta medula contínua, multisseriada, com células anastomosadas em forma de listras e cutícula imbricada com escamas em forma de folhas alongadas. Para os pêlos guardas primários de Rhipidomys mastacalis foi observado a medula contínua e mutisseriada e, para os secundários, unisseriada escalariforme e cutícula imbricada com escamas em forma de folhas alongadas. Os padrões observados correspondem aos descritos por QUADROS (2002), o que confirmam a eficiência da tricologia como um método de identificação específica e com aplicações em estudos de ecologia alimentar de carnívoros em diversos biomas brasileiros. |