Resumo |
A partir da compreensão de que o corpo é local de mediação entre as pessoas e o mundo e que, portanto, deve ser pensado em consonância com as vivências culturais e práticas políticas, compreendemos que a sociedade contemporânea, marcada pela disputa constante de poder, torna a corporeidade um espaço tanto de inclusão quanto de exclusão sociocultural e política. Essa constante disputa e consequente inclusão ou exclusão de corpos e identidades encontra respaldo nos gêneros da mídia jornalística classificadas, para Fairclough (2003), como tipo de “gêneros de governança”. O presente trabalho faz parte do projeto de pesquisa intitulado “Analisando corpos realinhados e identidades de gênero em narrativas jornalísticas”, recorte do projeto “Corpo na mídia impressa e televisiva: representações de vulnerabilidades sociais e diferença na sociedade contemporânea”, desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Letras, da Universidade Federal de Viçosa. Em termos metodológicos, segue um modelo transdisciplinar integracionista, uma vez que dialoga os estudos sobre identidades de gênero, corpo e sexualidade tal como desenvolvidos no campo da Sociologia do Corpo, por Le Breton e da Filosofia, por Judith Butler e Berenice Bento com os estudos discursivos críticos. Buscamos, a partir de subsídios fornecidos pela Análise do Discurso Textualmente Orientada, ADTO, cunhada por Norman Fairclough e pelo Sistema de Transitividade (Halliday e Matthiessen,2004), compreender como são construídos os discursos sobre as identidades trans e como esses discursos tornam-se passíveis de mudança a depender do lugar social ocupado pela pessoa sobre quem se fala. Para isso, debruçamo-nos sobre as pesquisas discursivas críticas, cujas ferramentas teórico-metodológicas permitem-nos apontar construções discursivo-ideológicas que resistem à desconstrução do paradigma biologizante que pauta a construção das identidades de gênero.Para tanto, selecionamos um corpus constituído de seis notícias digitais cujas narrativas relacionam-se ao caso de uma delegada da Polícia Civil de Goiás, Laura de Castro Teixeira e seu processo de transgenitalização. A partir da análise dos dados, concluímos que a forma como os fatos são relatados afeta diretamente a maneira como os leitores interpretam e reagem aos eventos sociomidiáticos. Assim, os estudos discursivos críticos apresentam-se como ferramentas fundamentais para uma abordagem crítica e social dos textos, pois utilizando de suas contribuições teórico-motodológicas notamos que as abordagens, perspectivas e vozes trazidas às reportagens corroboram e respaldam os discursos hegemônicos, excludentes e estigmatizados a respeito das identidades em trânsito. Dessa forma, invisibilizam (e inviabilizam) quaisquer perspectivas que rompam com esses discursos, resultando na constante exclusão desses indivíduos em espaços sociais. |