Resumo |
Introdução: O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) é um problema de saúde pública no Brasil e no mundo. A adoção de um estilo de vida saudável, com escolhas alimentares adequadas, pode ser efetiva no controle desta doença. Sugere-se que o cálcio possa favorecer o controle glicêmico, atuando no tratamento do DM2. Entretanto, ainda não há consenso entre os estudos. Objetivo: Avaliar se a ingestão de bebidas enriquecidas com cálcio têm impacto nos parâmetros relacionados à resistência insulínica e no controle glicêmico em pacientes diabéticos tipo 2 com excesso de peso. Metodologia: Trata-se de um estudo clínico de intervenção prospectivo, simples cego, em delineamento inteiramente casualizado, com 12 semanas de duração, no qual foram selecionados 36 indivíduos diabéticos tipo 2 com excesso de peso. Os voluntários foram aleatoriamente alocados em um dos grupos experimentais: Controle (CONT) (n=18) e Laticínios (LAT) (n=18). Foram prescritas dietas hipocalóricas (-500 kcal/dia), contendo 800 mg de cálcio de fontes dietéticas/dia. Diariamente foram ingeridas bebidas contendo o menor conteúdo possível de cálcio (CONT) ou 700mg de cálcio de origem láctea (LAT). Assim, o grupo LAT recebeu 1500 mg/dia de cálcio/dia e o CONT, 800 mg/dia. A composição nutricional das bebidas foi baseada nas informações nutricionais contidas nos rótulos dos alimentos e em laudos técnicos enviados pelos fornecedores. O índice de massa corporal (IMC), as concentrações séricas de glicose, insulina e triglicerídeos de jejum, frutosamina e hemoglobina glicada (HbA1c) foram avaliados no início e ao final do estudo. Os índices HOMA-IR (homeostatic model assessment of insulin resistance), HOMA2-IR e TyG (índice que relaciona a taxa de glicerídeos e a glicemia) foram calculados a partir dessas variáveis. Para as análises estatísticas foi adotado p < 0,05 como nível de significância. Resultados: A média de idade no grupo LAT foi 48,9 + 9,6 anos e no grupo CONT 48,4 anos + 8,3 anos. As 12 bebidas elaboradas (6 LAT e 6 CONT) tiveram composição nutricional semelhante, com exceção ao conteúdo de cálcio. Observou-se redução nas concentrações de HbA1c em ambos grupos (P=0,007 para LAT e CONT) e redução da glicemia de jejum no grupo CONT (P=0,05) ao final das 12 semanas do estudo. Os demais parâmetros bioquímicos permaneceram inalterados durante o estudo Conclusão: A intervenção dietética foi efetiva no controle glicêmico de pacientes diabéticos, independente do conteúdo de cálcio da dieta. A redução da HbA1c é importante, pois esta reflete o controle glicêmico a longo prazo e tem associação com risco de complicações do DM2. Entretanto, a média da HbA1c observada ao final do estudo ainda se encontra na faixa de risco, evidenciando a necessidade da intervenção nutricional por um período maior. Seria interessante testar ainda o efeito dessas bebidas em outros parâmetros que interferem no perfil metabólico (como pressão arterial, estresse oxidativo e inflamação). |