Resumo |
No decorrer do seu ciclo de vida, insetos passam por duas principais fases (vegetativa e reprodutiva) com requisitos nutricionais contrastantes. Assim, ao longo do seu desenvolvimento, os insetos passam por diferenciações morfológicas, fisiológicas ou comportamentais que podem resultar em necessidades e modos distintos de utilização dos recursos. Grilos são considerados onívoros, mas não existem estudos que avaliem a dieta em seu habitat natural. Neste trabalho avaliamos o nicho alimentar de uma espécie de grilo que habita serapilheira florestal, Mellopsis doucasae (Orthoptera: Grylloidea: Phalangopsidae), comparando diferentes estágios de seu desenvolvimento e sexo. Testamos a hipótese de que a dieta de indivíduos do mesmo estágio de desenvolvimento e sexo é mais similar do que entre indivíduos de diferentes estágios de desenvolvimento e sexo. Avaliamos a dieta a partir dos valores isotópicos de δ15N e δ13C, uma vez que refletem a dieta adquirida e assimilada pelos organismos durante toda a vida. Para isso, coletamos 50 indivíduos de grilos em um remanescente de Mata Atlântica, conhecido como Mata da Biologia, no campus da UFV, Viçosa -MG, Brasil. Após dois dias mantidos sem alimento, a fim de esvaziar o trato intestinal, os grilos foram mortos em freezer e separados em grupos (machos adultos, fêmeas adultas e ninfas). Cada amostra foi composta por um indivíduo adulto ou três ninfas, colocados em frascos de vidro, totalizando 10 amostras por grupo (n=30). Os valores de δ15N não diferiram entre sexos (F1,27= 1.76, P=0.19), apenas entre estágios de desenvolvimento (F1,28= 10.81, P=0.002), com uma maior assimilação 15N (1.4‰) em ninfas do que adultos. Os valores de δ13C foram diferentes entre fêmeas e machos (F1,27= 22.1, P<0.001), mas semelhantes entre adultos machos e ninfas (F1,27= 0.09, P=0.76), os quais assimilaram 1.2‰ de 13C a mais que indivíduos fêmeas. A razão C/N também foi semelhante entre sexos (F1,27= 1.46, P=0.24) e diferente entre adultos e ninfas (C/N= 0.4‰, F1,28= 11.85, P<0.001). Como esperávamos, o uso de recursos alimentares por imaturos e adultos foi diferenciado. Isso deve estar relacionado a diferenças em necessidades nutricionais da fase imatura para a fase adulta, como maior investimento em crescimento e desenvolvimento de órgãos internos nos imaturos, e investimento reprodutivo nos adultos. A cada troca de ínstar, as ninfas de grilos comem suas próprias exúvias, o que pode explicar esta maior assimilação do 15N neste estágio. |