Resumo |
O uso de pigmentos retirados de solos para confecção de tintas acompanha o desenvolvimento da humanidade há séculos. Nos primórdios de sua utilização, a arte de transformar o solo em tinta permitia que se agregasse valor às construções de quem detinha o conhecimento sobre este processo. No Brasil, uma técnica antiga desenvolvida para pintar casas é chamada de barreado, que consiste na pintura das paredes utilizando pano com material lamacento. Apesar de simples, a qualidade da pintura é baixa, sendo necessária manutenção frequente. Patologias em revestimentos são comuns em edificações, inclusive naquelas que utilizam produtos industrializados. Um dos fatores responsáveis pelo aparecimento desses problemas é a porosidade da película de tinta. Películas com baixa porosidade impedem as trocas de umidade entre as paredes e o meio externo, resultando em acúmulos de umidade. Portanto, desenvolver formulações de tintas que produzam películas porosas/permeáveis é de grande importância, principalmente para regiões úmidas, como a Zona da Mata mineira. Assim, a fim de contribuir para a melhora da técnica do barreado, analisou-se a porosidade de tintas produzidas com solos característicos da cidade de Viçosa – MG. Para isso, foram produzidas três séries de amostras, cada qual com um tipo de pigmento, utilizando a água como solvente e o PVA e o “PVOH” como resinas. O desempenho das misturas foi avaliado quanto aos poderes de cobertura seco e úmido e à resistência à abrasão, de acordo com os limites mínimos estabelecidos para tintas látex da categoria econômica, determinados pela ABNT. A viscosidade e o pH das misturas também foram avaliados e relacionados ao seu desempenho. Com base nos resultados obtidos, foram selecionadas as três melhores formulações para cada pigmento, que foram submetidas ao teste de porosidade, com vistas a avaliar a influência dos componentes da tinta sobre esse parâmetro. Os ensaios foram realizados de acordo com as prescrições estabelecidas pela ABNT NBR 14944:2003. Comparando os resultados dos ensaios, nota-se inicialmente que a tinta cujo pigmento de solo é amarelo apresentou os menores valores no geral, sendo que a média do valor RC (razão de contraste) para as três amostras foi de 73,99%. Em seguida, a tinta branca aparece com a segunda menor média (76,19%) e a tinta vermelha apresentou o maior valor médio (93,13%). Assim, pode-se concluir que a tinta amarela apresenta maior porosidade que as demais. Comparadas com as outras proporções, as amostras amarelas apresentam menor quantidade de pigmento diluído e maior quantidade de álcool na mistura, tornando as moléculas de solo mais dispersas. Seguindo esse raciocínio, as tintas branca e vermelha apresentam a segunda e a terceira maior porosidade, respectivamente. Desta forma, os resultados desta pesquisa contribuíram para o avanço do projeto Cores da Terra rumo ao desenvolvimento de um produto simples e acessível à população em geral. |