Resumo |
A lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae), é um inseto polífago com o status de principal praga da cultura do milho no Brasil, onde sua importância econômica tem aumentado nos últimos anos com a intensificação dos cultivos de milho em duas ou mais safras anuais. As larvas de S. frugiperda alimentam-se das folhas do cartucho da planta, reduzindo o potencial produtivo, e em altas infestações, também danificam as espigas em formação. Historicamente, para manejo de populações desta lagarta, o principal método controle usado é aplicação de inseticidas sintéticos, porém com a introdução do milho transgênico que produz a proteína inseticida Cry1F, derivada da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt), o plantio dessas e outras plantas Bt tornou-se uma ferramenta importante no manejo desta praga no país. Devido ao uso intensivo e o manejo inadequado desta tecnologia Bt, casos de falha de controle associado à seleção de populações resistentes a toxina Cry1F rapidamente foram reportados , tornando novamente indispensável o uso de inseticidas sintéticos para o controle de S. frugiperda nas lavouras. Entretanto, casos de resistência cruzada entre toxina Cry e inseticidas sintéticos foram reportados recentemente. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar se a redução da suscetibilidade de S. frugiperda à toxina Cry1F pode reduzir também a suscetibilidade aos inseticidas piretroides, i.e., fenômeno conhecido como resistência cruzada. Experimentos em delineamento inteiramente casualizado foram conduzidos em ambiente controlado em 27 ± 3 ºC, umidade relativa de 70 ± 15 % e fotoperíodo de 14L: 10E. Folhas de milho (não-Bt) foram tratadas com formulações comerciais de deltametrina e permetrina em condições de laboratório. Foram usadas quatro repetições, com 10 larvas por repetição, a qual se constituiu de uma placa de Petri contendo seções foliares tratadas com uma das sete as concentrações dos inseticidas testados. Baseando-se nos valores de concentração que mata 50 e 90% (CL50 e CL90) das larvas de populações suscetíveis e resistentes, observou-se que a resistência a Cry1F não diminui a suscetibilidade aos inseticidas deltametrina e permetrina. Isso não é surpresa e provavelmente se deve a diferentes modos de ação dos inseticidas (piretroides e toxinas Bt). Contudo, deve-se ressaltar a possibilidade de ocorrência de resistência cruzada, porque alguns mecanismos de resistência a ambos grupos de inseticidas podem ser semelhantes, fato que deve ser levado em consideração no manejo adequado da praga, o qual requer adequada integração de plantas Bt com aplicações de inseticidas, visando reduzir o nível populacional de S. frugiperda. |