Resumo |
Nos últimos anos, tornou-se comum, com o avanço das tecnologias de comunicação, o aparecimento de vídeos-virais pela internet. Propomos, então, uma análise do videoclipe da música “Lotus Flower”, de 2011, da banda britânica Radiohead, que tornou-se objeto de paródias ao som de músicas dançantes de algumas cantoras internacionais, famosas por suas performances sensuais. O objetivo é investigar como se configura o sentido do videoclipe entre os complexos elementos que o envolvem e, ainda, tecer algumas considerações sobre a intertextualidade visual verificável no vídeo, a partir da qual podemos explicar algumas das possíveis razões para que o videoclipe fosse motivo de atenção especial para alguns internautas. A escolha do videoclipe em questão como o objeto de estudo pauta-se no fato de a banda Radiohead ser conhecida por suas letras complexas, que tratam de variados temas que abrangem o indivíduo moderno, além do fato de o vídeo ter ficado famoso pela performance do principal integrante e vocalista da banda, Thom Yorke. No vídeo, temos o vocalista dançando sozinho no que parece ser um galpão. Yorke, já com seus 46 anos, é magro, possui uma paralisia no olho esquerdo e não está entre os contemplados pelos “padrões de beleza” impostos pela sociedade moderna. Para a análise, buscaram-se teorias que dessem conta da complexidade existente no gênero. A partir da noção do dialogismo bakhtiniano e de algumas premissas da Análise do Discurso, a investigação utiliza conceitos da intertextualidade visual ou intericonicidade e da teoria da multimodalidade. Através da análise multimodal do vídeo, percebemos que o foco está no personagem representado, e este dança, supostamente, de uma forma espontânea e aleatória, o que causa um grande estranhamento no telespectador. O videoclipe, em preto e branco, reforça, através dos recursos utilizados, a ideia de que o cantor é o centro da informação. A análise linguística revela um convite a um renascer, um desabrochar libertário. A aleatoriedade dos passos configura-se, na verdade, como um elemento fortemente motivado, reforçando a ideia de um ato libertário. Para tratar da intertextualidade visual, é necessário que o público recorra à sua memória discursiva para realizar alguma conexão dos elementos do vídeo e da performance do cantor com videoclipes de cantoras famosas por sua sensualidade. Em especial, propomos uma comparação com o vídeo da música “Single Ladies (Put a Ring on It)” (2008) da cantora Beyoncé. O estranhamento dos telespectadores quanto à performance do cantor parece um elemento essencial para essa comparação e permite identificarmos algumas das razões de o vídeo ter ficado tão famoso pela “dancinha”, conforme chamam alguns internautas. Por fim, A atuação espontânea de Yorke parece, ainda, subverter o comumente apresentado em videoclipes de cantoras como a mencionada e junto com os outros elementos que compõem o gênero, parece ser um ato que visa à liberdade. |