Resumo |
A pesquisa ora apresentada teve por objetivo analisar o atual processo de organização dos agricultores envolvidos em movimentos sociais. Estudou-se, especificamente, as práticas dos agricultores atingidos pela construção da PCH Emboque, localizada na zona rural do município de Raul Soares/MG. Adotou-se como metodologia a realização de entrevistas com agricultores atingidos pela barragem, observação participante em reuniões do Movimento e análise documental. No que tange à análise, os depoimentos coletados foram analisados utilizando-se o conceito de processo frame, baseado nos estudos do antropólogo Erving Goffman, que propõe uma análise dos movimentos sociais a partir da perspectiva de quadros interpretativos resultantes das representações simbólicas e cognitivas dos sujeitos, as quais justificam e impulsionam as ações. Utilizou-se, ainda, a noção de “Repertório de Ação Coletiva” do sociólogo Charles Tilly, que destacou a existência de um número regrado de possibilidade de ação dos movimentos sociais em determinados períodos históricos e contextos sociopolíticos. Nesse sentido, destaca-se no caso de Emboque a formação dos “Grupos de Base” que se constituem na força motriz do Repertório de Ação Coletiva dos agricultores envolvidos no MAB. Os Grupos possuem a função de alicerçar o Movimento em um contexto de atuação, no qual a construção da barragem se concretizou e a luta se orienta pelo cumprimento de condicionantes não findadas pelo empreendedor. As ações do MAB de Emboque estão pensadas a partir da ampliação do conceito de atingido situando a categoria para além dos processos indenizatórios pela perda de suas terras. Tal entendimento permite o recrutamento de novos militantes a partir da disseminação de um frame de injustiça social. Desta forma, aqueles que tiveram seus vizinhos realocados, prejuízos com a alteração do percurso das estradas ou perdeu o acesso ao rio, também são enquadrados dentro do conceito de atingidos. Observou-se, assim, a predominância de três tipos de atores sociais, os quais concebem frames de injustiça social com diferentes perspectivas, mas que compõe o conjunto de orientações do Movimento. Num primeiro enquadramento estão os atingidos que podem ser classificados como “puramente militantes”: geralmente, estudantes universitários e recém-formados que, via de regra, não são proprietários rurais, mas compartilham o master frame de “mudança no processo de desenvolvimento econômico”, lutando contra a apropriação privada dos bens naturais, neste caso, especificamente, contra as construtoras de barragens. Noutro caso estão os “militantes-agricultores” que, atingidos direta ou indiretamente, compõe o grupo de lideranças locais e coordenam os Grupos de Base. Possuem, ademais, a missão de compartilhar o master frame e organizar (recrutar) os agricultores na base. Por fim, estão os “agricultores participantes” que apesar de participarem dos eventos de mobilização, por vezes apenas se apropriam da noção de “sou atingido”. |