Resumo |
Considerado como um dos grandes expoentes literários do século XX, Fernando Antônio Nogueira Pessoa (1888-1935), ao lado de Luiz de Camões, figura entre os maiores poetas da Literatura Portuguesa e está, seguramente, entre os autores mais estudados do mundo. Mensagem (1934), seu único livro organizado e publicado em língua portuguesa, começara a ganhar corpo no interior de um poema escrito em 1913, Gládio, parte de uma obra homônima que ficara por escrever. Esse “poema-livro”, que guardara no âmago de sua concepção a força de Mensagem, teria quatro partes (três conhecidas), segundo o que nos chegou por meio de planos inconclusos do autor, e a primeira delas, Portugal, passaria a intitular, num segundo momento, a própria obra em desenvolvimento. Tendo o título final e definitivo alterado para Mensagem quase em vias de publicação e herdando, até certo ponto, a ideia incutida nas três divisões conhecidas de Gládio (Portugal, Prélio e Mística), a obra terminou por se tripartir em Brasão, Mar Português e O Encoberto, sendo cada uma das sessões subdivididas em outras partes. Cientes da homogeneidade presente no texto e certos de sua laboriosa feitura, limitaremos como objeto de nosso estudo apenas a primeira parte do livro, Brasão, pórtico que representa simbolicamente as bases do império português e do pensamento nacional. A complexidade total de Mensagem e seus 44 poemas transcenderia o escopo de nossa proposta. A escolha dos 19 poemas de Brasão, por outro lado, oferece-nos o aparato necessário para o desenvolvimento das reflexões acerca do símbolo de formação engendrado por Pessoa na primeira parte do seu livro. Nosso procedimento consistirá em avaliar a forma do Brasão, considerando: a) os símbolos heráldicos presentes e seus significados dentro da heráldica portuguesa, seguindo o Tratado de Armaria (1907), de Joaquim Augusto Correa Leite Ribeiro, e a Introdução ao Estudo da Heráldica (1992), de Marquês de Abrantes; b) a escolha das personagens históricas e sua importância dentro da constituição de Portugal enquanto nação, a partir da História de Portugal (Tomos I-IV), escrita por Alexandre Herculano; do primeiro volume da História de Portugal – Antes de Portugal, de José Mattoso, e da História de Portugal (1882), de J. P. Oliveira Martin. Com a realização desse trabalho, pretendemos mostrar como a formatação e composição dos poemas de Fernando Pessoa em Brasão levam à necessidade de considerar o estudo dos aspectos simbólicos em sua interpenetração com a superfície histórica e heráldica para a análise de Mensagem. |