Resumo |
Esta pesquisa investiga o diálogo entre as disciplinas Literatura e História no romance A Ilustre Casa de Ramires (1900), do escritor português oitocentista Eça de Queirós, tendo como objetivo analisar como se dá a interlocução entre essas duas áreas de conhecimento no processo de escrita da novela histórica “A Torre de D. Ramires”, incorporada na narrativa queirosiana. Buscou-se examinar se o romance A Ilustre Casa de Ramires se configura como exemplo de uma “metaficção historiográfica”, termo cunhado por Linda Hutcheon (1991). Metodologicamente, desenvolve-se uma análise teórico-crítica da obra queirosiana, tendo em vista outras leituras teóricas de textos que abordam a interlocução entre o discurso literário e o histórico, bem como de estudos que contemplam a trajetória literária de Eça de Queirós, analisando criticamente suas obras, tais como Campos Matos, Carlos Reis e Miguel Real. Utilizamos teorias sobre a narrativa histórica e o seu diálogo com a Literatura através de autores como Hayden White, Peter Burke e Jacques Le Goff, além de nos servirmos das noções de dialogismo e intertextualidade, cunhados respectivamente por Mikhail Bakhtin e Julia Kristeva. Através da micronarrativa do romance histórico escrito pelo personagem Gonçalo Ramires, detectamos que o protagonista romanesco explorou outros textos para elaboração do seu romance histórico, estabelecendo uma intertextualidade explícita com Alexandre Herculano, romancista e historiador português do século XIX, além do diálogo com o romance histórico do escritor inglês Walter Scott, considerado o pai deste gênero. Gonçalo também estabelece diálogos em seu texto “A Torre de D. Ramires” com o poemeto “Castelo de Santa Ireneia”, do seu tio Duarte Ramires, apropriando-se, primeiro como plágio, mas depois como marca de memória cultural em sua novela histórica, que ao fim de seu labor literário o torna consciente dos valores de nobreza, honra e integridade, que, no passado medieval, forjaram a Casa de Ramires. Vislumbramos, através dos resultados, que a obra A Ilustre Casa de Ramires se enquadra como uma metaficção historiográfica, investindo na intertextualidade, na crítica à memória cultural lusitana e na valorização da micronarrativa como elementos nucleares da estruturação do romance. Com isso, Eça de Queirós conseguiu realizar, no romance em questão, um rico e instigante diálogo entre a narrativa literária e a histórica, bem como uma corrosiva e irônica crítica à sociedade e à cultura portuguesa do final do século XIX. |