Resumo |
A cinomose canina é causada por um vírus RNA fita simples do gênero Morbillivirus, família Paramyxoviridae. A infecção pelo vírus da cinomose canina (canine distemper virus, CDV) é caracterizada por altos índices de letalidade e não há terapia antiviral específica disponível. O tratamento da doença consiste na adoção de medidas de suporte como hidratação, administração de antibióticos para infecções secundárias e polivitamínicos. O uso de plantas medicinais é uma prática muito antiga, mas que tem se mostrado promissora na busca de novos fármacos. Várias substâncias naturais já mostraram atividades anti-inflamatória, bactericida e antiviral, entre elas os flavonoides, taninos, saponinas e ácidos fenólicos extraídos de plantas. O Brasil detém biomas ricos em biodiversidade e portanto, não pode abdicar de sua vocação para o estudo dos produtos naturais. Devido ao grande impacto na população canina causado pela cinomose canina e à ausência de tratamento, o objetivo desse estudo foi investigar o potencial antiviral de flavonoides (rutina e hesperidina) e extratos vegetais (Baccharis trimera) contra o CDV in vitro. A concentração máxima não tóxica (CMNT) dos compostos e do dimetilsulfóxido (DMSO) foi determinada por microscopia óptica e mensurada por uma variação do método colorimétrico baseado na redução do sal MTT. As CMNTs foram definidas como CC10 (concentração citotóxica para 10% das células) e corresponderam a 30 e 40 µg/mL para os flavonoides rutina e hesperidina e, 45, 30 e 70 µg/mL para os extratos etanólico, hexânico e acetato de etila de Baccharis trimera, respectivamente. O ensaio antiviral Timing of addition foi utilizado para avaliar a eficácia antiviral em várias etapas do ciclo replicativo do CDV. Rutina e hesperidina demonstraram atividade antiviral para as fases de adsorção e penetração, entretanto, apenas hesperidina apresentou efeito inibitório para a fase intracelular ciclo replicativo. Entre os flavonóides, a rutina apresentou o maior potencial antiviral, com 98% de inibição viral. As três formulações do extrato demonstraram efeito antiviral nos estágios iniciais do ciclo replicativo, sendo o extrato acetato de etila atuante na adsorção e os extratos hexânico e etanólicos atuantes nas fases de adsorção e penetração do ciclo replicativo viral. O extrato etanólico inibiu 98,3% do título viral e foi o extrato com maior eficácia contra o CDV. O DMSO não apresentou atividade antiviral ou efeito citotóxico em nenhum dos ensaios realizados. As substâncias avaliadas apresentaram eficácia antiviral, portanto, através dos resultados deste trabalho, os compostos avaliados demonstraram potencial para avaliação terapêutica em modelo experimental e formulação de drogas eficazes e seguras para o tratamento da cinomose canina. |