Resumo |
A situação de rua é um problema histórico e social que compele pessoas a ocupar ruas, praças, prédios abandonados, albergues, entre outros espaços. Parte considerável dessas pessoas, acima da maioridade, são mulheres. Entretanto, assim como acontece com os homens em situação de rua, elas dificilmente são percebidas pela maioria da população, tornando-se, muitas vezes, “invisíveis”. A mídia, por se interessar pelo que considera inusitado, curioso e diferente, pode dar visibilidade a essas pessoas, se entender que isso poderá ser de interesse de leitores. As notícias jornalísticas, (um gênero discursivo midiático), estão repletas de relatos e discursos, pois necessitam de outras vozes, além do produtor (jornalista/jornal), que propiciem maior credibilidade às informações passadas. No que se refere às mulheres em situação de rua, os discursos presentes nas notícias podem contribuir para a naturalização de relações de poder e crenças particulares incorporadas pela sociedade. Desse modo, esse trabalho tem por objetivos: a) pesquisar a maneira como um determinado jornal se refere a essas mulheres, considerando, a partir de elementos linguísticos, a relação com práticas sociais e determinada perspectiva ideológica; b) investigar as relações intertextuais, o apagamento/visibilidade das vozes; e c) compreender como os discursos presentes nos textos podem estar transformando ou mantendo o problema social. Essa pesquisa de abordagem qualitativa tem como fonte de dados notícias que fazem referência à problemática da mulher em situação de rua, publicadas em 2014 e 2015 no jornal O Globo, escolhido por ser um dos principais do país. O referencial teórico metodológico empregado é da Análise de Discurso Crítica (ADC), com base na abordagem de Fairclough (2001 e 2003) que desenvolve uma Análise de Discurso Textualmente Orientada – ADTO; Chouliaraki e Fairclough (1999); e Thompson (2009), que fundamenta a investigação sobre ideologia, sugerindo formas de identificação das maneiras como o sentido é construído por meio de formas simbólicas que podem servir (ou não) para sustentar relações de dominação. Os resultados indicam que o jornal dá espaço às vozes das mulheres em situação de rua, mas nota-se a ausência de vozes que abordem de fato o problema social, assim como a presença de discursos vinculados à imagem dessas pessoas que possibilitam a naturalização da situação de rua. As implicações deste estudo sugerem que debater o tema da mulher em situação de rua pode contribuir para mudanças discursivas e sociais, bem como para a reflexão dos motivos que levam uma cidadã ou um cidadão a estar em situação de rua. Além disso, o trabalho promove análises linguísticas ao desenvolver uma análise de discurso crítica, interdisciplinar, que possibilita o diálogo com a história e com a sociologia. |