Resumo |
Leptodactylus latrans é popularmente conhecida como rã-manteiga. Apresenta porte médio e se caracteriza pelo padrão de ocelos negros distribuídos irregularmente pelo dorso, cuja coloração olivácea permite camuflar ao ambiente reprodutivo, utilizando da vegetação próxima ao corpo d’água para que não possam ser visualizadas com facilidade. Possui ampla distribuição geográfica, abrangendo toda a América do Sul cisandina, fator que pode ter sido contribuído pelo alto poder de resistência a ambientes alterados por ação humana, habitando assim, grande parte do território compreendido nos domínios da Mata Atlântica. Com base na análise da dieta da rã-manteiga no Uruguai essa espécie pode alimentar de presas de hábitat terrestre ou aquático. O objetivo foi analisar o conteúdo estomacal da rã-manteiga no Município de Viçosa e circunvizinhos no Estado de Minas Gerais, caracterizando a composição das dietas e relacionando o tamanho e hábitat de origem das presas consumidas. Material e métodos: a pesquisa foi realizada no Laboratório do Ranário Experimental da UFV e, as coletas, nos Municípios de João Monlevade, Ubá, Viçosa e Visconde do Rio Branco. Os animais foram capturados próximos aos cursos d’ água e ainda em campo, eutanasiados e marcados segundo Martof (1953). Os segmentos do tubo digestório foram isolados, pesados e acondicionados em frascos contendo álcool 70%, com identificação em papel vegetal. A verificação do conteúdo do tubo digestório foi realizada macroscopicamente e posteriormente, com auxílio de estereomicroscópio. Foram medidos e pesados os órgãos e aferidos os volumes e tamanhos das presas encontradas, de acordo com cada tipo de presa. Resultados: Foram capturados 13 exemplares de rã-manteiga. Esse baixo número foi devido ao período de estiagem ocorrido durante os anos da pesquisa (2013 a 2015) que afetou o ciclo de vida do animal. O Comprimento Rostro-Cloacal (CRC) variou de 4,6 a 16,92 cm. Dos animais capturados, 10 estavam com estômago cheio e 3 vazio. Foram identificadas 12 presas distintas no conteúdo estomacal dos exemplares. A maioria dos animais foram capturados dentro do corpo d’água e quanto ao hábitat das presas, as terrestres apresentaram maior percentual quando comparadas as presas aquáticas. Dezessete grupos de presas foram identificados, considerando os níveis taxonômicos mais baixos. a dieta mais abundante foi Coleóptera (37,83%), seguida por Pulmonata (Gastropoda) (16,95%) e Blattaria com 14,88%. A Frequência Volumétrica (FVt) das presas contidas no conteúdo estomacal dos exemplares demonstrou que a ordem Blattaria (77,11%) foi a que apresentou maior FVt, seguida por Hymnoptera (Apidae) (10,80%) e Coleoptera (8,24%). Conclusão: Rã-manteiga consumiu maior quantidade de Coleoptera, Blattaria e Pulmonata. Não houve predação de Anuros pelos exemplares analisados. A maioria das presas apresentam hábitat terrestre e a maioria dos exemplares foram capturados nas bordas d’água. |