Resumo |
As espécies da família Marantaceae possuem flores com morfologia complexa e elaborado mecanismo de polinização. Esse mecanismo envolve a apresentação secundária de pólen (da antera para o estilete) e a liberação explosiva e irreversível do estilete acionada pelo polinizador (ocasião em que recebe o pólen em seu corpo), que, a priori, impede a autopolinização espontânea. Em observações preliminares em Maranta leuconeura, realizadas no município de Viçosa, foi verificada frutificação natural na ausência de polinizadores, indicando que a autogamia é o sistema reprodutivo sexuado dessa espécie. Diante desse fato, foi objetivo estudar o processo de autopolinização em M. leuconeura, em populações naturais localizadas na Mata do Paraíso e no Horto Botânico da UFV. Para tanto, foram realizados testes de polinização (polinização cruzada e aberta, autopolinização espontânea e apomixia) e observações em flores frescas e estocadas em etanol 70%. Foi verificado o crescimento de tubos polínicos, por meio da microscopia de fluorescência, em flores autopolinizadas. Adicionalmente, foram acompanhadas 59 flores ao longo do dia, em intervalos de uma hora (desde a abertura das flores até a senescência) para verificar se a liberação explosiva do estilete ocorre e se essa liberação está associada ao processo de autopolinização ou aos fatores ambientais temperatura e umidade do ar (o aparelho utilizado para obtenção desses dados foi Instrutherm HT-600). Nas flores, ainda em pré-antese (antes da abertura, que ocorre por volta das 7 h), foi observado que grãos de pólen depositados na depressão estilar (porção do estilete onde ocorre a deposição secundária do pólen, localizada próximo à região estigmática) alcançaram o estigma receptivo. Modificações sutis no formato dessa depressão possibilitaram esse contato entre o pólen e o estigma e, desta forma, ocorreu a autopolinização espontânea. Em todos os testes de polinização houve frutificação, exceto no de apomixia. Na autopolinização espontânea a frutificação foi de 47%, confirmando a autogamia. Na polinização aberta foram 49% de frutificação, provavelmente, resultante também da autopolinização espontânea, pois inexistem polinizadores nas áreas do presente estudo. Houve crescimento de tubos polínicos em flores autopolinizadas, reforçando a autogamia. A liberação explosiva e irreversível do estilete ocorreu nos horários com as temperaturas mais elevadas e umidade do ar baixa. Apesar da manutenção desse mecanismo, ele não está relacionado ao processo de autopolinização. Concluindo, fica ampliado o número de espécies autógamas em Marantaceae. O processo de autopolinização aqui descrito é semelhante ao de outras espécies da família. Embora autógama, em M. leuconeura a liberação explosiva e irreversível do estilete é mantida, sem a participação de polinizadores. |