Resumo |
Introdução: A prática do batismo infantil é o principal sacramento da tradição cristã católica. Tal cerimônia evidencia aquilo que Victor Turner (1974) chama de rito de passagem, pois faz o indivíduo transitar de um estado social para outro. Segundo a tradição católica, o batismo confere à criança o direito de agregação no cristianismo e o poder da graça salvífica. Esta prática ritual insere à criança numa comunidade de fé que extrapola a própria congregação religiosa, assumindo papel importante no processo de socialização da criança junto a comunidade abrangente. Objetivo: Relatar a experiência de um trabalho etnográfico vinculado à disciplina Antropologia I, do Departamento de Ciências Sociais, com o objetivo compreender o batismo na tradição cristã como um dispositivo social que insere o indivíduo nas instâncias de socialização que extrapolam o espaço da família nuclear. Metodologia: trata-se de um trabalho etnográfico realizado a partir da técnica da observação participante, com foco na metodologia qualitativa empregada em ciências sociais, cujo objeto de observação foi a cerimônia de batismo de crianças praticada em uma Igreja Católica localizada no interior de Minas Gerais. Foram analisados a cerimônia batismal e os elementos relacionados à ela que operam certa simbologia religiosa, com ênfase em atores sociais em sua crença, falas, vestimentas e artefatos (água, velas, óleos, sal, pia batismal etc). Resultados: Da observação da cerimonia ritual, envolvendo canto de acolhida, liturgia da palavra (leitura bíblica, preces da assembleia, unção batismal), liturgia sacramental (benção da água, promessas do batismo, batismo, unção pós-batismal, veste batismal, entrega da vela), manipulação de substâncias (sal, óleo, velas etc.), foram encontrados temas como: catolicismo, salvação (graça), parentalidade compartilhada, moralidade, identidade e tradição que, de fundo, operam certa pedagogia de mundo. Conclusões: Por meio dessa experiência etnográfica pôde-se compreender que apesar do caráter religioso da cerimônia do batismo, que possibilita aquilo que Mary Douglas (1976) chama de um enquadramento da realidade que transporta os indivíduos do espaço-tempo-profano para o espaço-tempo-sagrado, nota-se também como a estrutura, os papeis e as representações sociais estão presentes nessa cerimônia religiosa, conduzindo o indivíduo a aprendizados que extrapolam os dogmas e que permite sua inclusão na sociedade. |