Resumo |
Diversos fatores podem se associar ao processo de diminuição do número de espécies de anuros, principalmente as espécies nativas. Ações antrópicas e a introdução de espécies exóticas afeta consideravelmente a sobrevivência de anuros nativos. Lithobates catesbeianus (rã-touro) é uma espécie exótica no Brasil, sendo originária da América do Norte. Está entre as 100 piores espécies invasoras da atualidade, podendo afetar consideravelmente a sobrevivência das espécies nativas como a Leptodactylus latrans, conhecida popularmente como rã-manteiga que apresenta ampla distribuição em nosso país. É considerada predadora e apresenta uma extensa variedade de presas em sua dieta. O objetivo foi caracterizar a composição das dietas de rã-touro e rã manteiga, no Município de Viçosa e circunvizinhos no Estado de Minas Gerais, analisando se há sobreposição de nicho trófico entre as duas espécies de rãs. Material e métodos: a pesquisa foi realizada no Laboratório do Ranário Experimental da UFV e, as coletas, nos Municípios de João Monlevade, Ubá, Viçosa e Visconde do Rio Branco. Os animais foram capturados próximos aos cursos d’ água e ainda em campo, eutanasiados e marcados segundo Martof (1953). Os segmentos do tubo digestório foram isolados, pesados e acondicionados em frascos contendo álcool 70%, com identificação em papel vegetal. A verificação do conteúdo do tubo digestório foi realizada macroscopicamente e posteriormente, com auxílio de estereomicroscópio. Foram medidos e pesados os órgãos e aferidos os volumes e tamanhos das presas encontradas, de acordo com cada tipo de presa. Resultados: foram capturados 10 exemplares de rã-touro e 13 de rã-manteiga. Ambas as espécies de rã, apresentaram 12 presas distintas no conteúdo estomacal. Em rã-touro a dieta constituiu basicamente de Anura (30,50%), Basommatophora (Gastropoda) (27,13%) e Hymnoptera (Formicidae) (20,77%) e em rã-manteiga, Coleoptera (37,83%), Pulmonata (16,95%) e Blattaria (14,88%). Com relação à análise de Frequência Volumétrica (FVt), as presas de rã-touro mais evidenciadas foram: Formicidae (44,78%), Anura (33,13%) e Basommatophora (13,25%). A FVt das presas contidas no conteúdo estomacal dos exemplares de rã-manteiga demonstrou que a ordem Blattaria (77,11%) foi a que apresentou maior FVt, seguida por Hymnoptera (Apidae) (10,80%) e Coleoptera (8,24%). O volume e proporções das presas contidas em rã-touro foram maiores que as presas dos exemplares de rã-manteiga, assim como o sistema digestório da espécie exótica apresentou maiores proporções que o da rã nativa. Conclusões: ocorreu canibalismo nos exemplares de rã-touro. Não se pode afirmar que uma espécie influenciou a sobrevivência da outra dentre os locais que foram feitas as capturas dos exemplares. As presas mais consumidas pelas duas espécies foram diferentes e com isso, nenhuma das espécies torna-se competitiva para outra com relação à disponibilidade de presas ingeridas. |