Resumo |
Durante a Revolução Verde, a vida dos trabalhadores do campo no Brasil foi pressionada pelas empresas de insumos agrícolas bem como pela perda da biodiversidade e expulsão das pessoas do campo. O Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA) surge na década de 1980, em contraposição a esse modelo, atendendo à demanda por uma agricultura alternativa. O CTA surge a partir de diálogo direto entre técnicos, sindicatos dos trabalhadores rurais, lideranças locais, estudantes e professores da UFV. Para a construção da agroecologia, muitos desafios técnicos e metodológicos precisaram e precisam ser superados. Um dos desafios neste processo é como articular os saberes populares e científicos, na perspectiva da Ecologia de Saberes. Na Zona da Mata, este desafio tem sido enfrentado com os Intercâmbios Agroecológicos - um processo social de promoção da agroecologia que congrega diversas metodologias para permitir a troca de conhecimentos. Os Intercâmbios são baseados no pensamento de Paulo Freire e nas experiências de Campesino a Campesino da América Central e Latina. Com este trabalho pretendemos apresentar a metodologia dos Intercâmbios e analisar suas contribuições e desafios na construção da Agroecologia na Zona da Mata mineira. A primeira etapa dos Intercâmbios é a articulação com os sindicatos, lideranças locais e famílias agricultoras. No Intercâmbio ocorre uma mística de abertura que pode ser uma oração, música, dança ou poesia; uma roda de apresentações; a família conta sua história e da comunidade. Depois é realizada uma caminhada pela propriedade, em que cada participante coleta um elemento que lhe chama a atenção; a seguir ocorre uma roda de socialização e cada um apresenta o elemento escolhido e fala o que sabe sobre ele. Feito isso, ocorre a troca de sementes e mudas. Em seguida ocorrem os informes e encaminhamentos onde é marcado o próximo Intercâmbio e o seu tema, com base em alguma questão-problema apresentada por algum agricultor. Outra prática comum nesses encontros é a merenda agroecológica, onde cada um leva pão, bolo, fruta, suco etc., feitos com produtos de sua propriedade. Por fim, ocorre uma mística de encerramento similar à de abertura. Nos últimos cinco anos foram realizados em média 25 Intercâmbios por ano, número que vem sendo ampliado através da incorporação de novos municípios. A cada Intercâmbio é perceptível a transformação nos cuidados com as propriedades e a aproximação das famílias agricultoras entre si e com a comunidade técnica e acadêmica. A partir dos Intercâmbios forma-se uma verdadeira rede de conhecimentos, de movimento e de ciência que tem contribuído para fortalecer e ampliar a agroecologia nesta região de Minas Gerais. Agradecimento especial às nossas famílias agricultoras que cuidam de nosso povo e sustentam nosso país. Apoio Projeto Comboio Ecoar/CNPq edital 81/2013 e PROEXT-MEC2015 |