Resumo |
O conhecimento a respeito das adaptações morfofuncionais do tubo digestório permite entender o regime e comportamento alimentares das espécies e contribui com estudos nas áreas da fisiologia, patologia, filogenia, nutrição e conservação animal. Porém a escassez de trabalhos sobre a morfologia interna de répteis deixa uma lacuna no que diz respeito ao sistema digestório. Assim sendo, o presente trabalho busca descrever morfometricamente o trato gastrointestinal de dois répteis squamatas, Tropidurus torquatus e Tupinambis merianae. Para tal, foram coletados três exemplares de cada espécie, sendo eutanasiados com superdosagem de barbitúrico injetado intraperitonialmente. O tubo digestório foi retirado e fixado em Formalina de Carson por 24 horas e, posteriormente, fragmentos do estômago e intestino delgado foram processados para inclusão em resina, seccionados em 3μm de espessura e corados com Azul de Toluidina. As medidas morfométricas realizadas para cada segmento foram: a espessura das camadas mucosa, submucosa e muscular, o comprimento das fossetas e glândulas gástricas e a altura e largura das pregas intestinais, sendo feitas, aleatoriamente, 20 medições de cada parâmetro. Histologicamente as duas espécies são similares, apresentando algumas diferenças morfométricas. A mucosa estomacal, devido a presença das glândulas gástricas, é a mais espessa e representa mais de 55% da espessura da parede do órgão em ambas espécies. A submucosa gastrointestinal é pouco desenvolvida, principalmente em T. torquatus, no qual representa entre 5 e 13% da espessura da parede. A túnica muscular estomacal é maior que a intestinal, principalmente na região pilórica, tendo cerca de 170 µm em T. torquatus e 460 µm em T. merianae, o que reflete a função motora deste segmento, estando envolvido com a trituração, mistura e esvaziamento gástricos. Na maior parte do trato gastrointestinal, a muscular de T. merianae é mais espessa que a de T. torquatus, representando maior percentual da parede, o que possivelmente esteja relacionado com seu regime alimentar diversificado, com mais itens de natureza vegetal. Em ambas espécies as glândulas fúndicas (cerca de 65 µm em T. torquatus e 189 µm em T. merianae) são maiores que as pilóricas (cerca de 47 µm em T. torquatus e 62 µm em T. merianae), e as fossetas pilóricas (em média 115 µm em T. torquatus e 182 µm em T. merianae) são maiores que as fúndicas (101 µm em T. torquatus e 77 µm em T. merianae, em média), o que implica em maior atividade secretória na região fúndica. O intestino delgado apresentou longas e delgadas pregas na região cranial (641 µm de altura em T. torquatus e 1114 µm em T. merianae, aproximadamente), tornando-se menores em sentido caudal (cerca de 427 µm de altura em T. torquatus e 906 µm em T. merianae, na região caudal). Tais pregas são responsáveis por ampliar a superfície digestiva e absortiva, uma vez que não há vilosidades no trato intestinal destas espécies. |