Resumo |
Os meliponíneos (Hymenoptera: Apidae, Meliponina) são abelhas eussociais que se destacam pela diversidade de espécies no Brasil. Conhecidos popularmente como abelhas sem ferrão são importantes polinizadores em ecossistemas tropicais e podem ser potencialmente afetados por inseticidas. Apesar da importância dessas abelhas nos ecossistemas naturais e para a produtividade agrícola, poucos estudos avaliaram efeitos de inseticidas sobre esses insetos. O nim é um bioinseticida que apresenta pouca toxicidade a mamíferos, rápida degradação no ambiente e sua utilização têm sido amplamente incentivada devido à sua origem natural. Apesar dos seus potenciais, sua utilização requer atenção, pois, a azadiractina, ingrediente ativo do nim, causa repelência, retardo no crescimento e efeito anti-alimentar em insetos, o que pode, supostamente, prejudicar polinizadores. Neste estudo, verificamos os efeitos sub-letais da azadiractina nas espécies de abelhas sem ferrão Melipona quadrifasciata e Partamona helleri, por duas vias de exposição: exposição por contato e exposição oral. Realizamos os testes de escolha com as abelhas em placas tratadas divididas ao meio: metade tratada com água e metade com azadiractina. Nesse ensaio, avaliamos repelência por contato e irritabilidade das abelhas mantidas nas placas. As abelhas foram consideradas repelidas quando permaneceram menos de 1 segundo na metade tratada da placa e irritadas quando permaneceram menos tempo na área tratada. A repelência por exposição oral e o efeito anti-alimentar foram avaliados em testes de escolha, nos quais as abelhas foram mantidas em tubos contendo xarope de mel contaminado com diferentes concentrações do inseticida em uma das extremidades e xarope de mel puro na outra extremidade. Abelhas que não ingeriram o alimento contaminado foram consideradas repelidas. O efeito anti-alimentar foi contabilizado em abelhas que ingeriram o alimento contaminado inicialmente mas não ingeriram o xarope de mel puro secundariamente . As concentrações do inseticida utilizada para ambos os testes foram de 30 mgi.a./L e 60 mg i.a./L. As espécies testadas não apresentaram repelência às áreas tratadas com azadiractina, mas operárias de M. quadrifasciata apresentaram irritabilidade por áreas tratadas com azadiractina na concentração de 60 mg i.a./L. A exposição oral à azadiractina não causou efeitos significativos em M. quadrifasciata, porém causou efeito anti-alimentar em operárias de P. helleri submetidas à ingestão de solução contaminada com 60 mg i.a./L. Concluímos que, em condições de campo, provavelmente meliponíneos serão expostos à azadiractina em virtude da ausência de repelência ao produto estudado. Entretanto, a utilização do produto não alterou o comportamento alimentar das abelhas, pois o efeito anti-alimentar ocorreu em apenas uma espécie após exposição a uma concentração alta e não recomendada para uso em campo. |