Resumo |
Nossa pesquisa procura desenvolver uma análise das estratégias linguístico-discursivas utilizadas para a construção dos éthé dos candidatos à presidência da República nos debates políticos das eleições de 2014. Buscamos verificar como os candidatos ditos “periféricos” (candidatos com menor espaço nos debates e com menores chances de elegibilidade, como, por exemplo: Levy Fidelix, Eduardo Jorge, Pastor Everaldo, Luciana Genro) constroem – ou reconstroem – a imagem dos mesmos pelo/no discurso em relação ao conceito de vrbanitas (Cícero/Quintiliano), que regulamenta o uso do riso pelo orador. Pesquisa qualitativa, tendo por suporte teórico-metodológico a Teoria Semiolinguística (Patrick Charaudeau) e a reinterpretação dos conceitos de ethos (Dominique Maingueneau) e de vrbanitas (Rony do Vale) enquanto categorias de análise no quadro da Análise do Discurso. Entre os principais objetivos específicos podemos destacar: a descrição situacional do gênero debate político televisivo; descrição semiolinguística do discurso dos candidatos ditos periféricos; e a identificação, em cinco debates presidenciais do 1º turno das eleições de 2014, de atos de comunicação com potencial humorístico, ou seja, identificação dos momentos em que o uso do riso pode ser percebido enquanto estratégia discursiva no discurso dos candidatos ditos periféricos. Nossa proposta de pesquisa encontra justificativa na ideia de que, na democracia brasileira, a representação prototípica do político passa pelo crivo do “jeitinho brasileiro” – de trapacear, do apoio ilegal, da compra de votos e dos vários tipos de corrupção aferidos ao sujeito-candidato ou ao sujeito-político em exercício do cargo. Outra razão é o fato do entendimento do humor ser relativamente pouco estudado no domínio da prática política em casos particulares como o brasileiro, o que se deve, principalmente, ao seu caráter formal, sério das relações intersubjetivas estabelecidas entre os políticos. Com efeito, o fato de nos debruçarmos somente sobre os candidatos periféricos é de modo a afastar suspeitas um tanto quanto nefastas para a nossa democracia em relação a candidatos que, por vezes, são considerados como estorvos, isto é, candidatos escolhidos não por sua capacidade de governança ou mesmo por suas reais chances de elegibilidade, mas tão somente para ocupar – não seria absurdo utilizar o verbo tomar – espaço no horário eleitoral gratuito e nos debates televisionados. |