Resumo |
O controle de insetos-praga na agricultura tem sido realizado principalmente através do uso de inseticidas orgânicos sintéticos. Entretanto, o uso indiscriminado desses compostos pode levar a sérios problemas ambientais e toxicológicos, o que tem levado a um maior rigor quanto à regulamentação desses produtos. A busca por metabólitos produzidos por plantas vem sendo considerada uma estratégia alternativa para a descoberta de moléculas naturais que possam ser utilizadas na agricultura. Metabólitos secundários de plantas podem inibir o desenvolvimento e exercer ação repelente contra insetos-praga. Estes inseticidas botânicos tem sido incorporados cada vez mais nos manejos integrado e ecológico de pragas agrícolas. Solanum habrochaites é uma espécie de tomate selvagem resistente a diversos organismos-praga, incluindo insetos. Esta planta é rica em tricomas glandulares, estruturas especializadas na síntese e armazenamento de metabólitos secundários capazes de atuar como defesa química da planta. Este trabalho teve como objetivo investigar a atividade de extratos de S. habrochaites contra Anticarsia gemmatalis Hubner (Lepidoptera: Noctuidae). Conhecida como lagarta-da-soja, A. gemmatalis é uma das principais desfolhadoras em cultivos de oleaginosas e cereais nas Américas, podendo causar até 100% de desfolhamento. Extratos orgânicos de partes aéreas de S. habrochaites (extrato em etanol, extrato em diclorometano, extrato em acetato de etila e extrato em metanol) foram testados contra os ovos e lagartas de A. gemmatalis. Todos os extratos apresentaram atividade contra os ovos, sendo o extrato bruto em etanol (EBSH) o que apresentou maior toxicidade [CL50 de 1.67% (m/v)], seguido pelo extrato em diclorometano (EDSH) [CL50 de 2.83 % (m/v)]. O extrato em diclorometano (EDSH) apresentou considerável toxicidade [CL50 de 5.70% (m/v)] contra lagartas. Os extratos foram também testados contra Palmistichus elaeisis, considerado o principal parasitoide de A. gemmatalis. Apenas o extrato em acetato de etila foi tóxico contra P. elaeisis, com CL50 de 15,07% (m/v) e CL90 de 37,05% (m/v). Os resultados mostraram que constituintes químicos presentes no extrato em diclorometano da planta apresentam potencial para utilização como inseticidas naturais, uma vez que exerceram atividade contra A. gemmatalis mas não causaram efeito tóxico contra P. elaeisis, seu principal parasitoide. Análises preliminares por cromatografia a gás acoplada a espectrometria de massas permitiram, além da identificação de diversos ésteres de ácidos graxos, a identificação das metilcetonas tridecan-2-ona, pentadecan-2-ona e 6,10,14-trimetilpentadecan-2-ona como principais metabólitos presentes no extrato em diclorometano. Metilcetonas de cadeia longa são reconhecidas como capazes de exercer ação inseticida e repelente contra várias espécies de insetos, sendo, portanto, os prováveis responsáveis pela atividade do extrato contra A. gemmatalis. |