Resumo |
O presente estudo tem como tema o espaço social dos moradores beneficiários do Programa Minha Casa Minha Vida do município de Viçosa, MG, tendo como campo empírico os conjuntos César Santana Filho, Benjamim José Cardoso e Floresta, todos destinados à população de renda de 1 a 3 salários mínimos. O objetivo foi analisar a sociabilidade familiar dos beneficiários em âmbito micro familiar e no espaço urbano (do conjunto habitacional, do bairro e da cidade). Teve-se como pressuposto que a segregação sócio espacial interfere nas relações sociais dos indivíduos. Nesse sentido, analisou-se o acesso aos espaços coletivos e públicos ou semi públicos nos conjuntos e a identificação dos laços afetivos sociais das famílias residentes – no interior dos conjuntos, no entorno dos empreendimentos e na cidade. Foram realizadas 125 entrevistas de caráter exploratório qualitativo e quantitativo. O perfil socioeconômico da amostra é bem heterogêneo. A população feminina é mais expressiva, a escolaridade está numa media de 5 anos de estudo e 52,8% não realizam nenhuma atividade remunerada. Quanto à infraestrutura, os problemas graves constatados foram a falta de estabelecimento comercial, policiamento, falta e/ou distância de escolas e creches, situação da área de lazer, falta de hospital e posto de saúde. O transporte coletivo e serviços de comunicação foram considerados um problema pouco grave a quase grave, a despeito do fato de que as estradas de acesso e a iluminação pública serem um empecilhos à mobilidade dos moradores. O transporte público mediador entre a cidade e os conjuntos habitacionais não atende às demandas necessárias acarretando uma série de dificuldades como o acesso a saúde, educação, trabalho e lazer, estabelecendo um distanciamento da cidade. A conservação das ruas não foi considerado um problema, apesar disso, o abandono de casas e a depredação estão presentes no local. A localização dos empreendimentos não é considerada problema, apesar dos mesmos estarem em áreas antes de caráter rural e afastada do centro da cidade. Contudo, os moradores se sentem bem no local e acreditam ter sido um bom negócio a aquisição da casa, a despeito do fato de que, se tivessem alguma oportunidade, se mudariam para outro local. A sociabilidade entre os moradores é caracterizada como não sendo um problema, entretanto foi percebido a partir de relatos o distanciamento entre vizinhos e uma alta sensação de insegurança no local. Foram detectados casos de discriminação por morar em conjunto habitacional dado ao estigma estabelecido pela cidade. A descrença na segurança, e a sensação de pertencimento do local consolidam o encapsulamento social, onde os moradores não se relacionam. Finalizando, os conjuntos habitacionais do PMCMV caracterizaram-se pela realidade de segregação sócio espacial, a qual interfere no campo de sociabilidade mais ampla dos moradores. Essa fica limitada, sobretudo, em função do não acesso à cidade pelos seus moradores. |