Resumo |
A constatação de que novas experiências do sujeito em sociedade exigiriam novas formas de narrar ocasionou a crise do romance burguês. Surgiram inovações representativas no gênero literário, tanto em relação ao conteúdo, quanto à forma, para atender ao novo contexto histórico-social (ADORNO, 1974; BENJAMIN, 1936; LUKÁCS, 1968). A narrativa do escritor brasileiro contemporâneo Luiz Ruffato, nascido na cidade de Cataguases-MG, destaca-se por problematizar aspectos da vida do proletário. A presente pesquisa busca investigar elementos relacionados à vida do trabalhador urbano na obra O mundo inimigo (2005), segundo volume da pentalogia Inferno Provisório de Ruffato, a partir do conceito de “romance da urbanização”, proposto por Fernando Gil (1999), e detendo-se nos elementos básicos da narrativa: tempo, espaço, personagem e narrador. Orientando-se teoricamente através da relação entre literatura e sociedade (CANDIDO, 1918), das particularidades do romance contemporâneo (AGUIAR E SILVA, 1939; BAKHTIN, 1993; GENETTE, 1979) e da relação entre literatura e história (BATALHA, 2000; GORENDER, 1998), investigamos a representação literária do processo de fixação do proletariado nas décadas de 1960 e 1970 na cidade de Cataguases, espaço ficcional da narrativa em questão, que se destaca pela transformação da economia agrária em industrial (COSTA, 1977; REZENDE, 1969; SILVA, 1908). A metodologia empregada baseou-se na análise crítica interpretativa do texto literário a partir de pesquisa bibliográfica em fontes históricas e textos de teoria e crítica literária. Para representar artisticamente o cotidiano do trabalhador urbano, com seus anseios, dificuldades, ambições, preocupações e necessidades (DALCASTAGNÈ, 2014), Luiz Ruffato, na obra em questão, utiliza uma “prosa experimental” e seu texto fragmentário e “provisório” permite ao leitor discutir criticamente efeitos do processo de desenvolvimento e modernização do Brasil, especialmente, no que diz respeito à história do proletariado brasileiro. |