Resumo |
Muitas vezes, quando se analisa uma adaptação de um texto literário para o cinema, a discussão se concentra na interpretação que o cineasta faz do livro, buscando a fidelidade ao original como aspecto essencial. Contudo, essa perspectiva vem sofrendo grandes e significativas alterações nas últimas décadas, e, atualmente, a grande maioria dos estudos que analisam uma adaptação fílmica de um texto literário reconhecem que o cineasta tem o direito de fazer sua própria leitura e interpretação da obra e realizar alterações que sejam necessárias durante o processo de adaptação de uma mídia para a outra. Essas considerações preliminares impulsionam do desenvolvimento desse estudo, que reconhece o direito do cineasta à interpretação livre do romance, entendendo a apreciação do filme como nova experiência. Afinal, durante o processo de adaptação, é natural que o texto literário sofra modificações, devido, até, ao tempo e às características próprias da linguagem cinematográfica, como as imagens, sons e a própria encenação dos atores. Portanto, o romance Tenda dos Milagres, de Jorge Amado, é compreendido aqui como o começo de um processo que culminou na sua adaptação fílmica homônima dirigida por Nelson Pereira dos Santos, sendo esses os objetos de análises desse trabalho. Diante disso, não se objetiva aqui analisar a fidelidade do texto adaptado em relação ao seu texto fonte ou apenas evidenciar as proximidades e diferenças discursivas existentes entre esses dois objetos de análises. A perspectiva busca ser mais ampla, objetiva-se analisar o romance supracitado e sua adaptação fílmica, tratando mostrar que, contrariamente ao suposto, a adaptação fílmica de um romance é um texto novo e autônomo, que deve ser compreendido como tal. Para tanto, a metodologia se desenvolveu a partir do método descritivo e comparativo, através de pesquisas exploratória e bibliográfica, utilizando a comparação como meio para se chegar ao fim e alcançar os objetivos. E assim, a partir do método comparativo, este estudo discute questões acerca da relação existente entre literatura e cinema a partir das análises dos objetos de pesquisa supracitados, mostrando que, com seu caráter ficcional, essas obras discutem questões diversas, desde valores, culturas, medos e variados sentimentos do ser humano, até períodos sombrios da história brasileira, sobretudo, a perseguição à cultura afro-brasileira, revelando o discurso daqueles que foram silenciados. Percebe-se, então, que essas obras são complexas, não têm sentido único, são ricas em temáticas e aspectos, sendo lidas aqui como expressões literária e fílmica da sociedade, que mesmo sendo texto fonte e adaptação, se relacionam de maneira autônoma. Afinal, o cinema tem um idioma próprio, independente e diferente da literatura, e um o estudo comparando essas duas mídias permite uma análise da extraordinária contribuição que uma arte traz à outra. |