Conexão de Saberes e Mundialização

19 a 24 de outubro de 2015

Trabalho 3748

ISSN 2237-9045
Instituição Universidade Federal de Viçosa
Nível Graduação
Modalidade Pesquisa
Área de conhecimento Ciências Humanas e Sociais
Área temática História
Setor Departamento de História
Bolsa PROBIC/FAPEMIG
Conclusão de bolsa Sim
Apoio financeiro FAPEMIG
Primeiro autor Karina Aparecida de Lourdes Ferreira
Orientador JONAS MARCAL DE QUEIROZ
Título “Professo viver e morrer na santa fé católica”: atitudes perante a morte nos testamentos do Arquivo da Casa Setecentista de Mariana (1748-1848)
Resumo A presente pesquisa dialoga com a chamada história das “atitudes perante a morte”, relacionando-se com a história cultural e social. Nosso trabalho procura mostrar como se apresentava, da segunda metade do século XVIII a meados da centúria seguinte, em Mariana, o discurso e as práticas em torno do morrer em diálogo com os princípios católicos. A documentação usada na pesquisa é composta por 155 testamentos do Cartório do 1º. Ofício de Mariana, produzidos entre 1748-1848. Esses registros fazem parte do conjunto documental que vem sendo tratado pelo Laboratório Multimídia de Pesquisa Histórica (LAMPEH) e foram selecionados devido à sua riqueza e acessibilidade. Os testamentos receberam tratamento serial quantitativo combinado à leitura qualitativa, a fim de observarmos, para a sociedade e período em questão, as práticas e representações tocantes à morte e ao morrer, bem como as transformações nesse âmbito operadas. Observamos que o testamento, embora constituísse ato personalíssimo, congregava uma série de indivíduos e coletividades: associações leigas, testamenteiros, sacerdotes, parentes, etc., e a cada um cabia uma função no “jogo” da salvação ou condenação eterna. Além disso, o conjunto de práticas religiosas – sufrágios, doação de legados pios, sepultamento religioso, etc. – eram medidas que caminhavam para o mesmo fim: o estabelecimento de uma memória individual como meio de atingir a salvação. Vimos ainda que no oitocentos teve início um processo de simplificação do testamento e diminuição de seu conteúdo espiritual. Dentro dos limites da investigação, buscamos compreender essa mutação no perfil da documentação a partir da observação de uma articulação entre as instituições religiosa e familiar no que tange a construção de redes de sociabilidades durante a vida do indivíduo e também em seus momentos últimos, quando se chega ao limite do poder de decisão sobre a vida. A partir disso, nos opusemos às análises que defenderam uma suposta descristianização da sociedade. Sugerimos que a supressão do elemento religioso na documentação não indicou perda de religiosidade por parte da população, mas deslocamento de atribuições. No decorrer do tempo, o testamento deixou de ser veículo privilegiado para as demonstrações de fé e para os pedidos espirituais, esses passam a ser confiados aos núcleos dos mais íntimos. A morte vista enquanto momento a partir do qual o indivíduo perde a capacidade de fazer valer suas escolhas pessoais explica a função do testamento: o documento que consegue postergar para além do falecimento as decisões e a memória do indivíduo. Mas, por outro lado, fica evidente na documentação o poder atribuído a outras instâncias: família, comunidade religiosa e testamenteiro. A partir de tudo que foi apresentado, ficou claro que a morte e o morrer tratavam-se de construções culturais e sociais e assumiam papel destacado na própria existência do indivíduo e da comunidade, mesmo que possa parecer contraditório.
Palavras-chave Testamento, Ritos fúnebres, Mariana
Forma de apresentação..... Oral
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